"A ignorância traz muito mais certezas que o conhecimento." (Charles Darwin) Os ateus e agnósticos costumam ser injustamente acusados de prepotentes. Os crentes afirmam que os ateus se acham os donos da verdade. Não poderia haver maior inversão! O ponto de partida de um ateu é justamente o reconhecimento da nossa ignorância, dos limites do nosso conhecimento. Há muito que o homem pode aprender sobre o mundo, principalmente utilizando sua principal ferramenta epistemológica, que é a razão. Foi raciocinando, e não rezando, que chegamos a tantos avanços tecnológicos e medicinais, ou mesmo às conquistas da liberdade. Mas há um limite onde nossos sentidos conseguem chegar. Além disso, resta um mar de desconhecimento. O ateu consegue conviver com essa ignorância, com muitas dúvidas sobre o mundo, sobre as questões básicas que sempre mexeram com os homens. Como tudo começou, de onde viemos, para onde vamos, tais questões não têm resposta ainda, e o reconhecimento disso é que possibilita a eterna busca por mais conhecimento. Como disse Epíteto, "é impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe". Mas o crente religioso não suporta a dúvida. Ele não consegue apenas não saber. "A dúvida é tortura apenas para o crente, mas não para o homem que segue os resultados de sua própria investigação", disse Humboldt. E então surgiram muitas religiões, oferecendo as respostas prontas, garantindo já saber sobre essas questões complexas. A prepotência, portanto, está justamente do outro lado, do lado dos que juram saber as respostas, pois estas teriam sido "reveladas". Muitos entendem que deus é uma palavra apenas para designar esse desconhecido, essa vastidão acima da nossa capacidade intelectual. Mas nesse caso, eu pegaria emprestada a frase de Frank Lloyd Wright, e diria que acredito em deus, mas soletro natureza. Não vejo porque dar outro nome então. Pois o outro nome, deus, vem carregado de outros conceitos, e gera muito mais confusão. Cada um terá sua idéia subjetiva do que venha a ser esse deus. O deus de Einstein, por exemplo, é muito parecido com o dos ateus, já que ele declarava não crer na imortalidade do indivíduo e considerava a ética uma preocupação exclusivamente humana, sem nenhuma autoridade super-humana acima. Não vejo mal algum nisso. Mas vejo riscos no deus antropomórfico que muitos homens criam e passam a acreditar. Um deus que observa os homens, que pune, que salva, enfim, no deus cristão ou no Alá dos muçulmanos. Essa crença em deus pode ser prepotente por afirmar saber as respostas, e ainda costuma ser intolerante, pois não admite competição e repudia qualquer outro deus. Algumas perguntas delicadas são feitas pelos ateus, mas costumam ficar sem respostas objetivas por parte dos crentes. Se esse deus meio humanizado é onisciente, sabe de tudo, então ele tem que conhecer a dor e o sofrimento, para ter criado tais sentimentos. Mas como pode um ser perfeito conhecer a dor e o sofrimento? A perfeição pressupõe ainda a inércia, pois qualquer mudança, qualquer ação, irá levar inexoravelmente para uma situação pior. Como deus agiu então para criar o mundo? A ação é fruto do desconforto e da busca pela melhoria, e seres perfeitos não agem. Se o teísmo é vagamente definido como uma força superior, um ser misterioso cuja essência não podemos sequer entender, então deus seria um ateu. Ele não acredita numa força superior a ele mesmo, e seus próprios poderes, apesar de acima dos homens, seria natural para ele, e compreensíveis. Tudo seria "natural" pela sua perspectiva. É justamente o que defendem os ateus. Muitos crentes ficam incomodados com isso tudo, e partem para a fuga mais conhecida: exigem que se prove então que deus não existe. Mas como se pode provar uma não existência? Se for uma fantasia, como será possível provar que ela é mesmo uma fantasia? A ciência busca refutar teorias, testando-as. As que suportam os testes empíricos, são consideradas válidas até que provem o contrário. Mas é impossível partir da necessidade de provar que algo não existe. Eu poderia afirmar que existe um gnomo vivendo em minha casa, e que ele é invisível e indetectável. Nenhum método que os homens conhecem seria capaz de provar a sua existência. Se eu pedisse para provarem que ele não existe, isso seria impossível. E creio que se eu insistisse muito em sua existência, era mais provável chamarem os homens de branco e me levarem para um hospício, depois de realizado um teste com o bafômetro. O ônus da prova deve estar com aqueles que afirmam sua existência, não o contrário. Os ateus apenas não reconhecem as crenças subjetivas dos religiosos como prova da existência de um deus. Se alguém deseja que suas crenças sejam levadas a sério pelos demais, deve mostrá-las como algo mais que conceitos pessoais, que um estado da mente. Uma crença torna-se objetiva quando é justificada com razões que podem ser examinadas e avaliadas por outros. Caso contrário, não é nada mais do que uma visão pessoal das coisas, uma emoção do indivíduo que nada prova sobre o mundo externo. Espero ter deixado mais claro que os ateus costumam ser mais humildes por aceitar a ignorância humana, enquanto os crentes assumem uma postura de prepotência e intolerância porque consideram que já sabem as respostas. Nota do Editor: Rodrigo Constantino é Economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfolio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog para a divulgação de seus artigos.
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