Todo dia antes de dormir, mamãe cantava: "Nana, neném Que a cuca vem pegar Papai tá na roça Mamãe foi cozinhar" A cuca vem pegar? Quem é a cuca? O que de forma subliminar estamos ensinando aos nossos filhos? Tem sido cada vez mais freqüente o diagnóstico de fobias e síndrome do pânico em crianças, além de outras formas de medo patológico. O medo é uma sensação presente em toda a raça humana, mas em alguns momentos o medo se torna persistente, gerando conseqüências desastrosas. Medo e ansiedade são fenômenos universais que acometem tanto as pessoas portadoras de transtornos de comportamento (principalmente transtornos ansiosos) quanto àquelas que não os possuem. O grande problema é quando o medo e a ansiedade fogem de um padrão ou se tornam incontroláveis. Algumas vezes, a sensação de perigo deixa de ser uma defesa natural para se tornar um problema. Personalidades ansiosas são mais predispostas ao medo, mas o medo também é aprendido. Pais inseguros tendem a criar filhos inseguros. Além do fator genético, o desencadear de medos e da ansiedade também sofrem a influência do ambiente. E como sobram motivos para se ter medo nos dias de hoje, pais e filhos se tornam reféns do medo da violência, medo de doença, medo da falta de dinheiro, medo da solidão, medo de si mesmo. O premiado filme "A Vida é Bela", de Roberto Benigni, mostra um campo de extermínio durante a Segunda Guerra Mundial, onde Guido (Roberto Benigni), através de tramas mirabolantes, consegue poupar o seu pequeno filho de todo o stress e medo que envolvia aquele ambiente. Mesmo nos momentos mais difíceis, este criava situações absolutamente fantasiosas que serviam como "escudo" em defesa daquela criança que, graças ao pai, não sentiu o terror que aquele ambiente poderia impor. Em contraponto, inconscientemente, muitos pais ensinam seus filhos a terem medo, quando poderiam protegê-los sem, necessariamente, "condená-los" ao pânico e à ansiedade exagerada, que certamente causarão prejuízos em suas vidas no futuro. O medo exagerado tem tratamento eficaz através da Terapia Cognitivo-Comportamental e, em alguns casos, através de medicamentos (como alguns inibidores seletivos de recaptação de serotonina) que reorganizam a química cerebral, minimizando principalmente casos onde a causa orgânica está presente. Nota do Editor: Walker R da Cunha é médico, psicoterapeuta, conferencista e autor de diversos artigos na área de comportamento e saúde de grande repercussão.
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