A Televisão é o altar diante do qual as massas se ajoelham em atitude de adoração aos ídolos populares, fabricados muitas vezes com a argila da mediocridade, pintados com as tintas da vulgaridade. Jornais são relativamente pouco lidos desempenhando, portanto, função moderada na formação da opinião pública. Já a TV exerce influência vital na vida das pessoas. É informação rápida e volumosa que não solicita muito do raciocínio, entretenimento e prazer, companhia e consolo. Moda, linguajar, costumes, crenças, comportamentos, atitudes e valores são hoje menos transmitidos pelos meios de controle social como a família, a escola, a Igreja, e mais pelos canais de televisão com suas novelas, filmes, programas variados, entre os quais alguns de bom nível. Na TV, contudo, não predomina o bom gosto ou a sofisticação. Mesmo porque, esse meio de comunicação de massas é produto e reflexo da sociedade e dos tempos em que se vive. Fantasiando a realidade a televisão reflete e devolve em forma de sonho a imagem recriada do que se passa entre os indivíduos. É como se fosse um gigantesco espelho mágico. Ao mesmo tempo, o espelho projeta o que as pessoas gostariam de ser e ter na vida real, e não podem. A TV é por excelência o palanque eletrônico onde atores políticos desfilam com o intuito de alcançar e manter o poder. E aqui não se deve omitir que o rádio se presta igualmente às doutrinações políticas e religiosas, portanto, ao controle social, mas não com tanto impacto. Quanto aos telejornais cito o poeta e ensaísta alemão, Hans Magnus Enzensberger: "A idéia de que a TV, um dia, poderia democratizar o conhecimento, foi apenas uma ilusão. O telejornal é o melhor exemplo dos seus limites de ação. Incoerentes, esses jornais televisivos não têm a menor intenção de informar, mas de vender qualquer coisa". De uns tempos para cá nossos telejornais estão vendendo boas notícias como se continuassem a obedecer às ordens do então ministro Luiz Gushiken. E não poderiam, é claro, faltar escândalos e tragédias. Desse modo, o acontecimento mais momentoso do início do ano foi a cratera que se abriu em São Paulo, originada das obras do metrô. Dia e noite os telejornais repetiram algo sobre o imenso buraco e não se sossegou enquanto não apareceram as vítimas. Mas, como tudo guarda intenções políticas, depois da eleição para presidente da Câmara dos deputados quando foi vitorioso o petista Arlindo Chinaglia, a cratera sumiu, pelo menos dos vídeos. E que, conforme a mídia, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) teria apoiado Chinaglia. Nos telejornais podemos saber o que se passa no Iraque que está no ar vinte quatro horas. Muitas outras notícias internacionais, mas nada de especial sobre o grande companheiro Hugo Chávez, sua lei habilitante que lhe confere poderes ditatoriais, seu crescente armamentismo com intuitos atômicos, o desabastecimento de carne na Venezuela. Nenhuma palavra sobre os mineiros que marcharam com bananas de dinamite para protestar contra Evo Morales, outro companheiro querido. Silêncio sobre as intenções do recém-eleito presidente do Equador, Rafael Correa, que pretende expropriar investimentos estrangeiros, o que poderá prejudicar o Brasil naquele país a exemplo do que fez Evo Morales sem que aqui se levantasse uma única voz nacionalista. No Brasil um cenário róseo é visto na TV. Bastante futebol (apesar da inesperada derrota para Portugal que passou batida). Intoxicação de PAN. Um tanto de PAC (a nova panacéia governamental). Daqui a pouco volta a novela da formação do ministério possibilitando ao presidente da República, que anda recolhido, mais exibições televisivas que no primeiro mandato tiveram a característica de overdose visual. Na TV a indústria brasileira cresceu (na verdade diminuiu o ritmo). Muito estardalhaço sobre a violência urbana, com o cuidado de não respingar nas autoridades enquanto, independente daquela Guarda Nacional que até agora não mostrou a que veio, a ocorrência de um dos crimes mais bárbaros já ocorridos no Rio de Janeiro: numa cena de horror um menino de seis anos morre ao ser arrastado preso no carro, pelos bandidos que roubaram o veículo de sua mãe. Na TV o presidente Luiz Inácio dizendo que a Saúde no Brasil atingiu a perfeição, na realidade a tragédia da jovem de dezessete anos, que em trabalho de parto percorreu quatro hospitais sem conseguir atendimento vindo a falecer com seu bebê. Na TV a educação brasileira como a melhor do mundo, nos jornais a manchete: "educação piora em 10 anos". Nos aeroportos caos e revolta sem que o governo tome a menor providência. Provavelmente o presidente Luiz Inácio não viu e não sabe o que está ocorrendo com os passageiros, a maioria, certamente, seus eleitores. Mas enquanto o povo acreditar na TV está tudo bem. Especialmente para o governo petista. Que precioso instrumento de poder é a televisão. Luiz Inácio que o diga. Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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