Diário da Perua
É um conto de fadas com todos os defeitos e qualidades de um deles, inclusive fazer chorar e acreditar no velho e bom felizes para sempre, vai dar certo. Mas Antônia, filme de Tata Amaral, é uma gracinha, como diria a tia Hebe. Anabel, que nunca assistiu ao seriado na Globo - o horário, sexta-feira à noite, início da balada forte, desencorajava qualquer garota que não deseja passar o início do fim de semana na televisão - aproveitou uma brecha e se mandou para o cinema. Adorei! Para começar é um conto de fadas da periferia de São Paulo, no caso a Vila Brasilândia, onde a escriba tem amigos. A Vila Brasa, como é conhecida pelos iniciados, ainda que fielmente retratada nas locações e no modo de falar dos manos, é edulcorada, como acontece com tudo em que a TV Globo coloca as mãos ou as câmaras. A violência é relativamente pequena, drogas, nada, nenhuma, nem um baseado. Mas a luta dos manos, ou no caso, das manas, pois são quatro cantoras - Negra Li, Quelinah, Leilah Moreno e Cindy - que interpretam quatro cantoras, e nem todas com condições de fazer algo mais do que cantar, está ali, pequenos e grandes sonhos, problemas idem, e personagens pra lá de legais. O rapper Thaide faz um empresário de rap, Marcelo Diamante, viajandão e xavequeiro, que já vale a ida ao cinema. O Tobias da Vai Vai, figura que mora no coração da maioria dos paulistanos, principalmente nesses dias de carnaval, é o pai bacana de uma delas. A mãe, o máximo, é Sandra de Sá, que não é funkeira, mas uma comportada evangélica, sob o céu que protege os habitantes da Brasa. E por falar em céu, ele é personagem presente com suas estrelas que muitas vezes ficam escondidas sob a linha do horizonte apagada pelos prédios suntuosos e altos das regiões mais favorecidas da cidade. Como elas são quatro rappers em busca do sonho de cantar, som na caixa é fundamental na história. E a música é boa, não chega a ser coisa do nível do falecido e delicioso Sabotage ou do Rappin Hood, mas agita legal os acontecimentos. Tanto que a primeira atitude de Anabel ao sair da sala de projeção, ligeiramente chorosa, foi comprar o CD. Além de uma versão de matar da saudosa Killing me Softly with his Song (Roberta Flack, quem lembra?) tem Na Sombra de uma Árvore, original, com o brega-chique Hyldon e uma revelação. Antônia, nome do quarteto, pois os avôs de todas elas se chamavam Antônio, de acordo com o encarte do CD - original - em latim quer dizer "inestimável. A que não tem preço. Guerreira famosa, gloriosa". Anabel Serranegra vai se mandar para o carnaval do Rio de Janeiro Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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