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Opinião
20/02/2007 - 13h29
O sal da terra
Dartagnan da Silva Zanela
 

A cada dia que passa mais e mais me convenço que a nossa democracia não passa de uma simplória oclocracia, um governo da ralé, pela ralé e para ralé. Ralé em todos os sentidos, mas especialmente, no sentido moral e intelectual. Obviamente, que não estou a me referir aos infelizes despossuídos e desdenhados desta terra de desterrados, mas sim, àquela classe pseudo-letrada e falsamente moralista que é a classe média de um modo geral e bem amplo.

Sempre espuma a sua boca de raiva por ter de pagar elevados impostos, por ter de pagar duas vezes (uma para o Estado e outra para iniciativa privada) pelos serviços que necessita como educação e saúde. Aliás, vive resmungando, todavia, de que adianta tal impostura? No máximo arranca algumas boas gargalhadas de nossa casta dirigente e nada mais que isso.

E pior! Estes mesmo indivíduos continuam a alimentar a crença de que exista uma espécie de líderes perfeitos, puros e pios, mesmo depois de terem caído feito patinhos na arapuca política do Partido dos Trabalhadores (risos).

Sobre este ponto, existe um trecho duma carta dos FEDERALIST PAPERS, escrita por ninguém menos que MADISON, onde este procura apontar a vantagem que a democracia representativa tem em oposição aos outros regimes. Esta vantagem consistiria na eleição de um "corpo de cidadãos, cuja provada sabedoria pode melhor discernir o interesse coletivo do próprio país e cuja sede de justiça tornaria menos provável que se sacrificasse o bem do país a considerações particularíssimas e transitórias". Bem, essa é a crença ainda presente no imaginário de nossos concidadãos que fazem questão de esquecer que o preço da liberdade é a perpétua vigilância. Mas, quem disse que essa gente quer ser livre?

Cabe lembrar que grandes estadistas, grandes legisladores, não nascem do limbo, mas sim, do manancial cultural que dá forma a esta sociedade e, quando afirmamos isso, não estamos a nos referir ao discurso pífio presente entre nós que proclama "educação para todos". Nos referimos sim, a indagação que julgamos basilar: quem irá educar a nação?

Ora, se aqueles que tem acesso relativamente farto as benesses da sociedade não procuram elevar-se culturalmente, não procuram atuar de modo intenso junto ao corpo social para formar uma sociedade civil realmente organizada para atuar junto ao espaço público, o estado em que se encontra a seara política nacional não apenas continuará na situação em que se encontra como irá se degradar mais e mais. Não por nossos homens públicos serem o que são, mas por nós, cidadãos, sermos uma pasta disforme de conformistas, omissos e irresponsáveis.

É obvio que, como nos lembra Norberto Bobbio, a democracia nasceu de uma concepção individualista da sociedade. Disto, não temos dúvida. Como também não há a menor dúvida de que a democracia representativa nasceu do pressuposto de que os cidadãos/indivíduos, uma vez investidos da função pública de escolher os seus representantes, escolheriam os melhores. Porém, meus caros, os melhores em que e de qual sociedade? Em se tratando da nossa, a coisa está bem feia...

Infelizmente, nossa sociedade não é, nem de longe, melhor do que nossos representantes que, gostemos ou não, são-nos como um espelho da verdade, que nos mostra como realmente somos enquanto nação e, por isso, execramos os políticos, com tanta veemência, por não suportarmos a semelhança deles conosco, com o íntimo de nosso ser. Literalmente somos um aglomerado humano sonso e sem sal que, por covardia congênita, se recusa de modo veemente a temperar a sua alma por temer ser rejeitado pela idiotia coletiva.

Então, se a democracia está a padecer, viva a oclocracia!


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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