Um sociólogo comenta que certos indivíduos não se conformam que gente do povo possa pensar, ter idéias próprias, saber das coisas. Pessoas nascidas em berço difícil, fortalecidas pela rudeza da vida, tornam-se cidadãos mais comprometidos com a sociedade, porque sentem na pele a exclusão em seus variados e perversos aspectos. Só conhece a vida quem batalha por ela; só sabe do que precisa, quem passa por dificuldades; só tem capacidade de reivindicar seus direitos quem os conhece e sabe que eles lhes são negados. Quem sempre teve a facilidade de bens materiais, sabe o que significa pobreza? Quem nunca se equilibrou num orçamento pequeno, vivendo de poucos salários conhece o valor de cada real que recebe? Falar é fácil; aliás, a palavra, a mídia mais antiga que se conhece, está aí para ser usada. A palavra é neutra: o que muda é o uso e a leitura que se faz dela. A experiência cultural do povo brasileiro pode não ser refinada, mas está sedimentada em cinco séculos de difícil aprendizagem. A Aracati - Agência de Mobilização Social - reuniu no livro Frutos do Brasil, uma amostragem do que os jovens brasileiros estão, no momento, realizando por esses brasis. Ótimas ações de mobilização juvenil que nos fazem conhecer a inteligência, a solidariedade e a competência de jovens cidadãos provocadores, promotores e atores de processos de mudanças que não são vistos pelos que vivem no submundo das facilidades e são, geralmente, sectários: não aceitam que as coisas sejam de outro modo, não tentam nem querem mudar; são inflexíveis com os outros. Suas mentes têm a profundidade de um pires. Os relatos do livro e do site não esgotam a abrangência e o significado do que é realizado neste momento. As ações desenvolvidas quebram tabus e preconceitos sociais, sexuais, raciais que excluem as pessoas. Trabalham pelo coletivo. Porque a vida é um só movimento energético entre os seres humanos; não existe o movimento nosso e o deles; tudo tem a ver com tudo. Há uma interligação entre nós. Não importa se um é rico e o outro pobre; se de bairro nobre ou periferia. Somos uma unidade chamada humanidade. O que afeta o rapaz que mora num barraco afeta, também, o que mora numa cobertura. Interação sempre foi o ponto vital de uma sociedade: realizar juntos, interagir (agir juntos), conviver (viver juntos). Os jovens frutos do Brasil pararam de reclamar da vida, do (des)governo. Saíram da disputa para ver quem sofre mais, quem é mais excluído, quem leva o prêmio de "o mais coitadinho do ano". Tiveram a sabedoria de enxergar que isso não levava a nada e os mantinha presos à negatividade. Resolveram assumir o controle do barco de suas vidas. Não sabem o que acontecerá no momento seguinte como, aliás, toda a humanidade: eis a magia da vida. Mas estão preparados para as mudanças e flexíveis a tudo; eis a sabedoria! Os jovens do Brasil são éticos. Suas ações implicam em autonomia. Eles entendem o que têm de fazer. E escolhem fazê-lo. Optam pela ação. Escolhem a sua liberdade. Iniciam em seu interior uma revolução e, partindo da morada onde brilha a alma, começam a agir: fazem e acontecem. Essa juventude que os demais brasileiros desconhecem não está na mídia, mas em nosso bairro, em nossa cidade, em nossa rua, em nosso prédio, ao nosso lado no ônibus, nos bancos escolares. Se tivermos a sensibilidade necessária os reconheceremos. Nota do Editor: Neiva Pavesi, educadora, promotora de leitura, divulgadora cultural, escritora, coordena Concertos de Leitura com o Grupo Cantigas Praianas, em Santos (SP), onde reside.
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