Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, as mortes relacionadas ao tabaco já ultrapassam 10.000 por dia, em todo o planeta
No Brasil, são muitos os fatores que favorecem o tabagismo, como o reduzido custo do cigarro (aliás, um dos mais baixos do mundo), o difícil acesso a informações seguras sobre os malefícios do cigarro, entre outros. Mais um complicador é a postura agressiva da indústria do tabaco, que investe alto em promoção e propaganda, aumentando, assim, o número de consumidores. Seus alvos principais são jovens e adolescentes. O Estudo Global do Tabagismo entre os Jovens, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 46 países, aponta a incidência entre esse público. Em muitos países, crianças de 10 anos já são viciadas em tabaco. Em 2002 e 2003, no Brasil, segundo a mesma pesquisa, a prevalência de experimentação entre estudantes de 12 capitais, ficou entre 36% e 58%, no sexo masculino, e 31% e 55% no sexo feminino. Esses dados servem para comprovar a magnitude do fumo como doença social, cujo impacto é ainda mais expressivo nas regiões em desenvolvimento. "O combate ao tabagismo é relevante individualmente, para a saúde do cidadão e também coletivamente, pois é importantíssimo para diminuir os elevados custos sociais e financeiros relacionados a esse vício, e que tendem a crescer nos próximos anos", pondera a Drª Nise Yamaguchi, diretora do Instituto Avanços em Medicina (IAM) e presidente da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos. Parar de fumar é um caminho longo e árduo para o paciente, mas que só renderá benefícios à saúde - também a dos outros. O coordenador do Grupo de Cessação de Tabagismo do IAM, Dr. Gustavo Prado, afirma que o tabagismo, por si só, já deve ser considerado uma doença e não um hábito como freqüentemente é tratado. "Mais do que isso, além da própria dependência química e psicológica ao fumo, é um fortíssimo fator de risco para inúmeras outras, sejam respiratórias (câncer de pulmão, enfisema pulmonar e bronquite crônica), cardiovasculares (angina e infarto), orais (inflamação na gengiva e perda de tecido ósseo dental, mau hálito, câncer de boca e garganta), entre outras. Além disso, em gestantes pode trazer complicações, como risco elevado de aborto, parto prematuro, problemas relacionados ao baixo-peso no nascimento e complicações respiratórias para o bebê", acrescenta. A OMS considera o fumo a principal causa de morte evitável no mundo. Só no Brasil são 200 mil vítimas fatais por ano. Com a tendência de aumento no consumo ainda observada na maioria dos países subdesenvolvidos, estima-se que, até 2030, o número de falecimentos anuais deverá atingir 10 milhões em todo o planeta. Apesar disso, um terço da população mundial adulta é fumante, o que equivale a 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres). A chance de um indivíduo abandonar o vício sozinho, após um ano de tentativa, é de aproximadamente 5%. Porém, associada a uma intervenção cognitivo-comportamental e terapia medicamentosa, e sob a orientação de uma equipe multidisciplinar especializada, cresce 8 vezes. Diante de tantas razões para largar o cigarro, conseguir é uma questão de conscientização, força de vontade e o auxílio específico. Passo a passo do tratamento De acordo com o Dr. Gustavo, o primeiro passo é buscar informações sobre os males que a dependência produz no organismo. "É o pontapé inicial para a tomada de decisão sobre parar de fumar e a motivação necessária para procurar ajuda médica", esclarece. Na fase seguinte o fumante passa por uma avaliação geral com um profissional da área e uma entrevista específica sobre o perfil da sua dependência. Nos centros médicos especializados, ainda há o acompanhamento nutricional e psicológico. "Vale reforçar que no início do tratamento existe a possibilidade de ganho de peso, razão que freqüentemente está relacionada ao abandono do tratamento, especialmente entre as mulheres, sempre mais preocupadas com alguns poucos quilinhos a mais. Por isso, recomendamos a atividade física (caminhadas, natação, dança, mas sempre após a autorização de seu médico), uma alimentação balanceada e controlar a procura aos doces e alimentos gordurosos". Como suporte ao paciente, podem ainda ser prescritos alguns tratamentos medicamentosos, como a reposição de nicotina (em adesivos ou gomas de mascar) associada ou não aos antidepressivos nortriptilina e bupropiona. "Neste ano, aguardamos o lançamento de uma nova droga, a vareniclina. Lançada em 2006 nos Estados Unidos e Europa, atua especificamente nos receptores de nicotina do sistema nervoso e diminui a sensação de prazer proporcionada pelo cigarro. Sem dúvida, um fármaco que oferece um resultado promissor", analisa Dr. Gustavo. O tratamento dura em média 12 semanas e pode ser prorrogado por um total de 6 meses. É um longo período, mas que propicia um resultado compensador e benéfico, para o fumante e para aqueles que convivem com sua fumaça. Sua saúde agradecerá!
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