Mais de 10 dias faltam para a povoação do mundo comemorar o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, mas eu ansioso e masoquista já estou sofrendo desde agora com a vontade de escrever para todas as mulheres do mundo e dizer-lhes que eu as amo, principalmente por declarar este amor no dia em que "se pretende chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher", trecho entre aspas que roubei na Internet, como se rouba uma flor no jardim para levar à mulher amada. Volto a teimar que amor à primeira vista não existe, existe desejo! O amor é algo construído como se a cada dia tivéssemos a obrigação de acrescentar um tijolinho, bem firme sobre outro, de maneira que nenhuma tempestade possa derrubar a parede que vai sendo levantada. Quero recordar uma história, verídica, de um casal de velhinhos comemorando sessenta anos de casamento que resolveu trocar confissões. Ela, a mulher, quase sempre vítima, revelou que havia tido um relacionamento com um ex-namorado na véspera do casamento. Ele, irado, foi ao quarto pegar um revólver e impiedosamente matou aquela que com ele viveu sessenta anos de alegrias e outras confidências. A construção daquele amor não estava alicerçada na compreensão e no perdão, e as paredes eram mal-construídas, por isso ele ruiu, acabou! Existem outros amores, o Deus para com os homens que transcende alguma edificação, bastando a aceitação! Assim como as cento e trinta mulheres operárias têxteis que morreram queimadas em uma fábrica de Nova Iorque, onde entraram em greve para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia, para 10 horas, e que recebiam menos de um terço do salário dos homens, motivo do 8 de março, se amavam na busca de seus direitos. Se suas cinzas não mais existem, a fumaça da conquista hoje incensa tantas outras fábricas e escritórios onde a presença da mulher é de vital importância. Principalmente nas maternidades, onde elas trazem à luz a principal matéria-prima do mundo: o homem sapiente! De 1857 para cá, temos cento e cinqüenta anos de uma luta que não acabou, um século e meio de conquistas, mas não da conquista plena. Temos, ainda, a mulher sendo olhada com frágil, como se a fortaleza existisse nos músculos. Temos, ainda, a mulher sendo olhada como objeto sexual, como se este prazer não fosse uma dádiva de Deus para os dois, homens e mulheres. Houve um tempo em que só havia os homens machos e homens fêmeas. Assim se tratavam os dois sexos. Talvez se imagine que naquele tempo poderia haver uma igualdade, parecida com os bichos que observamos, mas quando assistimos os desenhos animados em que o homem da caverna usa uma machadinha de pedra e a mulher caminha atrás dele carregando as traias, não dá para acreditar que em alguma época a mulher teve o reconhecimento merecido. E não será ainda em nossa geração. Mas como o amor é coisa que se constrói, que os milhões de mulheres de agora, com o exemplo das cento e trinta de ontem, hoje continuem a jornada da libertação. Mas não se igualem aos homens, sejam sempre diferentes, delicadas, amorosas, pois as suas conquistas devem ir acima do direito ao emprego e carteira assinada; avancem no campo de ter o direito de independência e até confessar aventuras passadas ao seu companheiro velhinho, sem que ele a mate. Que tenham direito na administração de suas vidas e corpos, mesmo que pela opção da construção de algum amor não venham a usar todos atributos da liberdade. E não sejam, apenas, um dia no calendário, mas as mulheres de todos dias! Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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