Outro dia desses me deu uma baita de uma dor nas costas. Mas, quando a gente está com a minha idade, muito pior que a dor nas costas são as gozações dos amigos. Se um moleque de dezoito anos tem dor nas costas, é porque precisa parar de dormir no sofá da sala, assistindo televisão. Ou porque está fazendo muito exercício. Ou até porque teve uma noite, digamos, mais ativa que o normal. Mas se um cara de quarenta e tantos anos tem dor nas costas, não tem desculpa: é porque está ficando velho. Então, a maioria das dores nas costas que dá nos quarentões como eu, a gente agüenta calado, pra não ter que ficar ouvindo esse tipo de comentário que, além de não ajudar com a dor nas costas, ainda acaba deixando a gente com depressão. Só que dessa vez estava doendo mesmo. Não dava nem para disfarçar. Eu chegava meio corcunda no escritório, com uma mão nas costas, e a secretária já começava a tirar uma com a minha cara: - Precisa de uma ajuda, seu Artur? Tudo bem. Talvez ela até estivesse querendo ajudar. Mas vindo de uma garota de vinte e poucos anos, soava como gozação. Era preciso tomar uma providência urgente. Então, o que eu fiz, foi perguntar para uns amigos mais ou menos da minha idade se eles sabiam alguma coisa sobre dor nas costas. E um deles me emprestou um livro. - Comprei nos anos oitenta, talvez ainda sirva para alguma coisa. O livro era desses meio esotéricos, que fala sobre energia vital, meridianos, yin e yang. Fui folheando o livro, em busca de alguma coisa que pudesse me ajudar. Até que encontrei um parágrafo que falava sobre o medo. Segundo o livro, o medo é a "raiva de ponta cabeça". Enquanto na raiva, toda nossa energia vai para o cérebro (daí o termo "cabeça quente"), no medo toda a nossa energia vai para baixo, para as pernas e para os intestinos (daí dizermos "fulano se borrou de medo"). Quando estamos com medo, sentimos a necessidade de correr do lugar de onde estamos, então nosso organismo envia sangue para nossas pernas e esvazia nossos intestinos para ficarmos mais leves. Acontece que, nos dias de hoje, a gente não corre mais. E muito menos sai por aí, fazendo cocô em qualquer lugar. E toda aquela energia reprimida do medo acaba estourando em nossos músculos, especialmente nos das nossas costas. - Bem, mas e aí, você já melhorou das dores? Olha, melhorar eu não melhorei. Mas que essa explicação é sensacional é, não é?
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