Diário da Perua
Não houve nada, nada mesmo, nem morte de crianças nem de adultos, como a do vice-presidente do Salgueiro, fartamente noticiada pela imprensa, que pudesse afastar Anabel do carnaval no Rio de Janeiro. A maioria achou que eu era louca – sou obrigada a concordar – mas como prometi aos poucos e queridos leitores, cumpri a ameaça, quer dizer, a promessa, de me mandar para a Cidade Maravilhosa e conferir a folia. Praias lotadas, engarrafamentos, um calor de rachar, nada disso transformou o Rio no inferno anunciado, nem mesmo a presença da Guarda Nacional, que se deu as caras mesmo ninguém viu. A Banda de Ipanema saiu, eu fui atrás, os blocos bombaram, as caipirinhas idem. O resto, se não foi paz e tranqüilidade, passou perto, nem briga de rua presenciei. Ao pedir explicação para um guarda na rua como fazer para alcançar os Arcos da Lapa, perguntei se podia ir a pé. “Claro, minha princesa, vá mostrando ao Rio e ao mundo esse corpo maravilhoso”, respondeu galanteador. E eu cumpri minha missão, ou seja, saí desfilando pelas calçadas a exibir esse corpo maravilhoso, que chegou são e salvo ao seu destino, onde se acabou de dançar. Se não fui ao Sambódromo, ele veio a mim, era impossível escapar das manchetes da Sapucaí. E foi assim que tomei conhecimento de que Susana Vieira, aquela atriz antiga da Globo, tinha escolhido justamente o desfile de carnaval e todas suas câmaras para, na frente delas, perdoar o marido infiel. Anabel, que se achava imune a todos os casamentos, descasamentos, transas marítimas e luas-de-mel que recheiam a ilha e/ou o castelo de Caras, ficou de queixo caído. Ora, se bem passada dos 60 anos, ela arruma um marido de 30, sorte dela. Se o príncipe consorte (ou sem sorte) faz parte da briosa corporação da PM tanto melhor, me parece, seguranças e bombeiros também estão em alta entre certa faixa das integrantes do tal mundo de Caras. Se o tal marido, mal saído da lua-de-mel, aliás um mico, com direito a apendicite e hospital no Caribe também retratada em todas as revistas de fofoca, vai para um motel com uma vagaba e detona não só o motel como a donzela em questão, também não é de minha alçada, ou de minha calçada, como diria uma velha amiga. Agora, esperar o carnaval chegar para dar o show do perdão, com perdão do trocadilho, em frente de quem quisesse ou não ver, já não cabe nem na cabeça da escriba. Ela realmente conseguiu dar munição para as fofocas de celebridade em uma união – ou boda, como eles gostam – em um assunto que parecia não ter mais espaço para cavar o fundo do poço. E não se limitou a isso, no meio do perdão, enfiada em um biquíni, foi dançar funk abaixadinha com um grupo de garotas, chamando os fotógrafos para registrar a cena, tanto que um deles soltou a melhor frase que os jornais registraram no carnaval: “Caraca, ela tá com a macaca”. Anabel Serranegra acha que a quarta-feira de cinzas chegou cedo demais Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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