Muito se fala em como preservar a memória e o que fazer para ajudá-la a nunca falhar. Por conta disso, muitos jogos como palavras-cruzadas, jogos de memória e principalmente o sudoku, estão tão na moda. Mas será que esse tipo de atividade realmente ajuda a preservar nossos conhecimentos e lembranças? Qual a contribuição desses jogos para doenças neurológicas e psiquiátricas? Segundo a neuropsicóloga do Hospital Ecoville Drª Samanta Blattes da Rocha, qualquer atividade intelectual é válida para preservar a memória. "Toda atividade cerebral de estimulação, quanto mais for realizada, mais fortalece sinapses cerebrais. Quanto mais a pessoa estimula uma função, mais ela melhora". Quando uma pessoa joga o sudoku, a memória é estimulada, só que de maneira secundária. "Sua maior finalidade é estimular o raciocínio - sobretudo a parte lógica, na qual precisamos fazer combinações de informações", esclarece. A memória pode ser dividida basicamente em três partes: memória operacional, memória declarativa/não declarativa e memória verbal. Cada uma é responsável pelo o quê aprendemos e de que forma esse conhecimento fica armazenado. "Quanto maior a reserva funcional da memória, que é feita através de qualquer estimulação cerebral, maior é a chance de pequenas perdas não causarem danos graves", explica Drª Samanta. Uma atividade muito benéfica para manter a saúde da mente é a leitura. "Ler ajuda a exercitar a linguagem da compreensão e do vocabulário, também trabalha com a memória verbal", diz. Porém, este tipo de atividade tem um efeito maior ainda sobre a memória quando a pessoa passa a ter oportunidade de conversar sobre o assunto. "Aí sim, estará exercitando a memória do que leu, aplicando um contexto, analisando o conteúdo, organizando os fatos e idéias", ressalta a neuropsicóloga. Por esse motivo é importante observar se a atividade não está agindo de forma superficial. "O que acontece quando uma pessoa está com indícios de Alzheimer ou demência é que muitas vezes ela lê uma história e não lembra do que leu no inicio da página. Como não conta este fato para ninguém, as pessoas próximas pensam que ela está bem, pois está lendo", exemplifica. A neuropsicóloga lembra que atividades como leituras e jogos auxiliam para evitar perdas. E quando já há perda de memória ou falta de concentração? Pessoas que já apresentam algum tipo de distúrbio devem ter atividades indicadas e acompanhadas por um especialista. "Por exemplo, se você quer que uma pessoa com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) fique concentrada em uma tarefa, dependendo de como isso é feito, a atividade pode ser mais ineficaz, improdutiva e irritante do que estimulante", aponta. Para problemas de perda de memória ou doença de Alzheimer, é a mesma coisa. "Você não pode dar tarefas de memória para o paciente achando que isto vai melhorar seu desempenho. Se a atividade está muito acima da sua capacidade, é bem possível que lhe pareça mais estressante do que estimulante", frisa Drª Samanta. Já para doenças psiquiátricas, como a Síndrome do Pânico, por exemplo, a neuropsicóloga diz que o sudoku pode auxiliar no controle da ansiedade. "Há benefícios indiretos em atividades que estimulem a concentração, já que esta pessoa precisa aumentar esta capacidade. Temos de trabalhar a concentração deles com o objetivo de conseguir focalizar sua atenção em outro foco fora doença". Já em doenças como depressão e transtorno bipolar, são indicadas atividades com conteúdo mais lúdico. "Esses pacientes necessitam de atividades que mexam com a sua percepção do mundo e com o seu humor". Drª Samanta salienta que o tipo de atividade escolhida depende muito da doença e ainda, do estágio em que ela se encontra. "Não existem hoje estudos que nos mostrem qual o poder de um treino específico, ou seja, até que ponto conseguir decorar uma série de dígitos ou imagens vai auxiliar o paciente a melhorar seu desempenho. Há muito a ser compreendido acerca deste assunto".
|