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Crônicas
02/03/2007 - 06h02
Caipira também ama
Fábio de Lima
 

Ah, seu moço, hoje estou tão triste. Mas não é aquele tipo de tristeza das novelas, não! Nem pense que é tristeza igual a dos poetas, não! Hoje limpo as unhas com minha peixeira e penso na vida. Mas que vida dura é essa, seu moço?! As rugas no meu rosto não deixam eu mentir.

Ah, seu moço, por que Deus inventou esse tal de amor? Nunca na vida amar me fez bem. Desde mocinho quando eu amava a professora do grupo escolar, amar foi sempre um sofrimento. E já sofri muito, seu moço. Olhe, nem te conto! Quantas vezes revirei, à noite, na rede, pensando numa caboclinha.

Ah, seu moço, mas neste final de semana a dor já foi demais. Eu que não sou mais um menino e tenho o coração já espedaçado e colado tantas vezes. Eu que falava que nunca mais sofreria, assim, por uma mulher, de novo. Estou pagando a língua, seu moço. Estou pagando os meus pecados. Estou pagando o mau que, confesso, para o senhor, nem saber se pratiquei.

Ah, seu moço, vida de pobre é difícil em qualquer canto do mundo. Vida de caipira, então?! Mas, na verdade, o fato danoso mesmo foi ter nascido caipira e besta! Meus colegas do campo, ainda na mocidade, conheceram moças prendadas e foram logo casando. Eles tiveram filhos e vivem felizes até hoje. Eu não! Inventei de caçar mulher bonita! Este foi meu erro.

Ah, seu moço, assim fui vivendo todo este tempo. Sonhava que um dia conquistaria o amor de Maria. Até rimou, seu moço?! Mas o que lhe falo não é poesia e, talvez por isso, o final não foi o que imaginei - nem o que o senhor gostaria. Neste final de semana ela me disse que não me ama. Falou que não adianta a gente continuar tentando ser feliz, porque não fomos feitos um para o outro.

Ah, seu moço, o senhor não sabe o quanto me doeu ouvir estas palavras de Maria. Eu, homem da roça, nunca chorei na frente de ninguém. Portanto, quando minha menina me falou todas estas coisas, eu me fiz de forte mais uma vez. As pernas tremeram - o coração quis sair pela boca - o estômago doeu, suei frio, e a boca secou, mas, seu moço, eu lhe asseguro, não derramei uma lágrima.

Ah, seu moço, mas quando Maria foi embora eu cai no chão e chorei que nem bebê de colo. Chorei, mas chorei, mas chorei tanto, que até me assustei com tamanha tristeza. Agora no mês de abril vai fazer 10 anos que eu e Maria demos o primeiro beijo. E durante todo esse tempo já terminamos e recomeçamos nosso namoro muitas vezes. Mas, seu moço, eu sei que depois deste final de semana não haverá mais volta.

Ah, seu moço, por tudo isso é que estou aqui na sua frente. Os olhos estão vermelhos, mas acho que não tem mais água para cair, não! As pernas e o braços ainda tremem, como vara verde, mas acho que não vou desmaiar, não! A barriga dói, a cabeça dói, e o coração dói tanto que já cheguei a pedir para Deus fazer este coração parar de bater, mas acho que Deus não ouve súplica de caipira, não!

Ah, seu moço, só estou aqui na frente deste espelho, porque precisava desabafar com alguém e não tenho ninguém, além do senhor. Pois o senhor sabe que não tenho amigo ou amiga. O senhor sabe que não tenho filho ou filha. O senhor sabe que não tenho mais pai, que não tenho mais mãe, e que, deste final de semana em diante, nunca mais terei Maria. Então, sai de dentro desse espelho e me abraça - porque tudo que esse caipira precisa, agora, é de um pouco de carinho.


Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor ou "contador de histórias", como prefere ser chamado. É Diretor de Programação da CINETVNET (www.cinetvnet.com.br), TV pela internet. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.

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