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Crônicas
30/03/2007 - 14h19
Eu também fui de moto
Seu Pedro
 

Sábado ensolarado, como sempre curiosa, a cidade assiste o movimento de quase meia centena de motocicletas, daquelas que pobre vê e fica babando e ladrão pé de chinelo não rouba, pois tem medo, não só de pilotar, mas também de ficar com um encalhe na mão. Afinal, estas máquinas bonitas e potentes, que cortam as estradas em bando, a maioria com coroa de cavanhaque pilotando, têm que ter controle no punho, no pé e na cabeça, documentação em dia, e ainda, por cima, para ser reconhecido como moto-estradeiro, têm que ter uma boa garupa, onde possam levar a esposa. Não acreditam? Mas têm muitos que levam a cara-metade, e não fazem conta da despesa, pois não acham caro estender a alegria do lar pelas rodovias do país!

Claro que existem solteirões que gostam de exibir as garupas, principalmente aquelas que arrebitam o bumbum para trás, colocam as mãos delicadamente no ombro do piloto, e fazem juras de amor por baixo dos capacetes. Às vezes dá certo e os dois envelhecem juntos "em cima da morte à procura da sorte". Fazendo parênteses, esta frase eu li quando era adolescente (o que continuo sendo aos sessenta de idade), escrita na lateral de uma moto Harley Davidson, azul surrado, que servia para entregas rápidas de uma casa especializada em tintas, existente nos anos sessenta na Rua Buenos Aires, no Rio de Janeiro. Não sei se o comércio e a moto ainda existem, mas a frase se eternizou em mim.

Hoje, muitos outros usam esta frase, e outras similares. Dia destes passou por mim um caminhão que ostentava no "saião" traseiro a frase estilizada: "Montei na morte, querendo antes dela a $orte", com cifrão, mas quem me gravou a filosofia popular na cabeça foi a Harley Davidson, que tinha na lateral o tal "sandcar" sem a cadeirinha do carona, para carregar as tais latas de tinta. Nem bem criei um bigode e um ralo cavanhaque, comprei uma destas motos de mil cilindradas, com suspensão telescópica. Moderna para uma época (1965) em que as motocicletas, mesmo de alta cilindrada, a maioria vinha com "garfo" na dianteira. Logo, troquei o velho motor mil por um de mil e duzentas cilindradas.

Um ano de felicidade, Rio-São Paulo-Rio pelo menos uma vez por mês, gasolina ainda barata, pois a "moleca", como eu a batizei, consumia muito mais que um Fusca, tido na época como carro econômico, que hoje se percebe ser um blefe, pois o bicho é gastador em comparação aos modelo atuais. Bastou a "moleca", uma morena chamada Luana, e um bom (quer dizer mau) buraco na pista, para que meu sonho de moto-estradeiro fosse parar no Hospital Miguel Couto, na Gávea, Rio de Janeiro, bem em frente ao campo do Flamengo, onde eu e morena ficamos hospedados, mas em quartos separados. Uma vantagem foi ouvir o furor da torcida, nos gols de nosso time preferido.

Ainda tenho saudades daquela moto enfeitada, com pára-brisa e nele um "Tigre da Esso". Era moda que me fazia sentir mais potência, ainda sonhando com Luana descer da garupa. Por isto, não resisti ao ver, em Guanambi, meia centena de motocicletas coloridas, de diversas marcas, modelos e potências, com homens de negócio, autoridades aposentadas, jornalistas, médico, delegado de polícia, contador de causos, esposas e namoradas reunidas em um espaço reservado, numa tarde gostosa, com churrascos e muitos papos. Um bonito encontro, onde havia histórias de motociclista pescador, que garantiu ter sido dono de uma moto tão grande, mas tão grande, que à noite, para dormir, armava uma rede do guidão à lanterna traseira e ali se embalava.

Com esta saudade toda, fui ao encontro dos motos-estradeiros em um espaço reservado. Ao chegar, brinquei com alguns e declarei: "Eu também vim de moto". Os mais chegados, com a alegria que é pontual nestes grupos, logo perguntaram: "Cadê a máquina?". Dei um sorriso e expliquei: "Deixei lá fora, paguei dois reais para o motoqueiro e ele voltou com ela para o ponto". Não disse mentira. Cheguei de moto-taxi!


Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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