Os equívocos da diplomacia Norte-americana para a América Latina, e para com o Brasil em particular, seriam ridículos se não fossem trágicos. A impressão que dá é que o pessoal da Casa Branca que formula a política externa está tremendamente desinformado sobre o que acontece por estas plagas, mas o senso de perigo reapareceu. A simples vinda de George Bush é sinal de que afinal o mundo não se resume ao Oriente Médio. O incêndio pode estar aqui no quintal de casa também e o calor já está esquentando os costados.

O noticiário que dá cobertura à viagem de Bush é instrutivo ao revelar a alienação dos americanos. O subsecretário Thomas Shannon acusou a Venezuela de "comprar favores". E isso é lá novidade? Será que o homem profissionalmente pago para saber o perfil dos governos vizinhos ainda não descobriu que existe o Foro de São Paulo, o concertamento de todos os esquerdistas ao Sul do Rio Grande? E que Chávez é um dos líderes do mesmo, certamente aquele que tem a incumbência de acumular forças militares de forma ostensiva, sob um governo legal, para usá-las no tempo devido?

O mais cômico, todavia, foi a crítica feita por Bush à estatização levada a efeito pela Venezuela, acusando-a de ser ineficiente e empobrecer aqueles país. Esqueceu de lembrar da Argentina, da Bolívia e do próprio Brasil, que ressuscitou até a Sudene. Bush parece ignorar que todos os países relevantes da América do Sul, com exceção da Colômbia, são governados por esquerdistas históricos cuja plataforma de governo é socializar suas nações. Entendida a socialização como estatização. As forças políticas que lhe farão recepção nos palácios no Brasil são as mesmas que organizam as marcha de "Fora Bush" da Avenida Paulista.

Lula e seu governo são os grandes arautos de estatismo. São defensores de primeira hora de Hugo Chávez. Parece que o presidente Bush não tem noção de que ele e seu país são vistos como inimigos a serem combatidos, tanto no front ideológico como no front político-militar. A comunalha que domina o Itamaraty sabe muito bem o que quer e tem a política externa perfeitamente clara, voltada para o eixo Sul-Sul. Bush não terá qualquer tratamento além do protocolar e seu discurso a favor da redução do tamanho do governo não tem chance de ser ouvido. Ouvirá risinhos mal disfarçados de desprezo dos seus anfitriões se tocar no assunto.

Espero que o fracasso esperado de sua passagem por aqui sirva de lição para que os EUA formulem uma correta política para o Hemisfério. O tempo urge. O avanço do processo revolucionário por aqui não poderia ser mais rápido e o risco de eclosão de conflitos armados em larga escala nunca foi tão grande. George Bush precisa encarar Lula como ele é: um inimigo ideológico que quer abolir o livre mercado, que detesta os norte-americanos, especialmente os republicanos, e que, se puder, acaba com o que restou de sociedade aberta por aqui.

Infelizmente o passado condena: os americanos só acordam para os problemas de política externa realmente maiúsculos quando a coisa sai fora de controle e a diplomacia não tem mais o que fazer. Rezo para que não cheguemos ao extremo de ver os marines fazendo incursões na Amazônia ou nos Altiplanos. Teríamos uma edição piorada do que foi o Vietnã.

Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.