Em tempos de aquecimento global surge a pergunta que não quer calar: quais serão os efeitos imediatos das temperaturas mais elevadas no organismo humano? A fisioterapeuta Inês Murbach, pesquisadora do Departamento de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas, tranqüiliza os mais apavorados: "Ninguém vai ser frito em função do calor, já que a elevação da temperatura se dará gradativamente e o organismo humano se aclimatará no mesmo ritmo dos termômetros". Mas a pesquisadora alerta para alguns efeitos que o aquecimento global pode provocar e faz sugestões para que suas conseqüências não afetem a saúde humana: "Na exposição prolongada ao calor excessivo, é possível que o indivíduo desenvolva um aumento da irritabilidade, fraqueza, depressão, ansiedade e incapacidade para se concentrar. Nos casos mais graves podem ocorrer alterações físicas, como desidratação, erupção (vesículas roxas na área afetada da pele), câimbras (espasmos e dor nos músculos do abdômen e das extremidades) e alterações neurológicas. As câimbras e a exaustão pelo calor raramente resultam em seqüelas permanentes, assim como as alterações neurológicas, hepáticas e renais - de leve a moderadas - observadas na síncope (desmaio rápido) pelo calor, que geralmente cessam após o restabelecimento da normotermia (temperatura normal do corpo), mas a fraqueza muscular, entretanto, poderá persistir por vários meses, dependendo da gravidade da lesão, ou seja, quanto maior ela for, maior a possibilidade de seqüelas permanentes". A fisioterapeuta recomenda que, em casos de exaustão física decorrente da exposição prolongada ao calor excessivo, o primeiro cuidado a ser tomado é o resfriamento rápido do corpo, com a remoção do indivíduo do ambiente quente para que possa repousar em um local arejado e fresco. Inês Murbach dá algumas dicas sobre providências que devem ser tomadas imediatamente após a manifestação da exaustão física: · colocar compressas de água fria no rosto e nos pulsos (evitar compressas com álcool); · expor o indivíduo à ventilação contínua; · aplicar banhos de imersão em água fria, de preferência gelada; · colocar bolsas de gelo nas axilas e virilhas; · fazer hidratação via oral, com soro caseiro (em um copo de água filtrada ou fervida, colocar duas colheres de chá de açúcar e uma pitada de sal. Misturar bem); · oferecer-lhe alimentação leve; · levá-lo ao médico na ocorrência de vômitos, tonturas, desmaios ou convulsões. Essa atitude é de vital importância para a sobrevivência do indivíduo. A mortalidade da síncope pelo calor pode atingir até 50% das pessoas que se expõem ao calor excessivo e geralmente está associada à idade avançada, crianças e indivíduos com insuficiência orgânica grave. Alguns cuidados básicos deverão ser tomados na exposição prolongada ao calor: · beber líquidos que contenham sais, com o intuito de repor a quantidade perdida durante a transpiração; · usar roupas de cor clara e tecidos leves que permitam que a transpiração seja evaporada e não fique retida no tecido; · evitar o uso de bebidas alcoólicas em excesso, assim como de alimentos de difícil digestão, que aumentam a função metabólica, levando o indivíduo a sentir-se mais sonolento e desatento; · realizar as atividades físicas de qualquer modalidade nos períodos de menor incidência solar e, conseqüentemente, de menor temperatura ambiente. Essas atividades deverão ser obrigatoriamente moderadas para as pessoas que não estejam condicionadas fisicamente; · banhar-se sempre (no mar ou na piscina) para diminuição da temperatura corporal, não esquecendo de molhar a cabeça. A fisioterapeuta finaliza, com uma outra recomendação: "Como vivemos em um país tropical é importante nos protegermos do calor intenso e aos poucos condicionar nosso corpo às atividades físicas, como forma de prevenir possíveis danos físicos e funcionais".
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