Modelo pedagógico para uma educação ambiental eficaz
O termo Ecologia surgiu em 1866 no livro "Morfologia Geral dos Organismos" escrito pelo biologista alemão Haeckel. A Ecologia ainda é uma ciência nova, se comparada à Química, Física e Biologia. Ela se firmou a pouco mais de meio século e pode ser considerada como a ciência do real. Na Ecologia os seres vivos são estudados num mundo repleto de fatores que estão sempre sofrendo diversas alterações. O ecologista não separa o ser vivo de seu contexto, estuda-se o meio em que ele vive, as diversas inter-relações entre os seres vivos e as sucessões do tempo. As dificuldades de se realizar experimentos laboratoriais controlados, como ocorre na Biologia Geral, Química e Física, colocaram a Ecologia em descrédito por muitos anos. Quando acendemos um palito de fósforo, imediatamente vemos um fenômeno físico-químico. Um pequeno corte no dedo e em poucos minutos ele está cicatrizado graças à eficácia das plaquetas, este é exemplo de um rápido fenômeno biológico de manutenção da vida. Basta brincar com uma bola para se compreender as Leis de Newton. Demorou-se muito tempo para aceitar que há uma complexa interdependência entre todos os seres vivos e os fatores abióticos (não-vivos) tais como a umidade, nutrientes, radiação solar, pH etc. No meio ambiente tudo está ligado a tudo e esta constatação ecológica permitiu alertar a humanidade sobre o quanto o Homem está danificando o meio ambiente e necessita de educação ambiental. O consumismo sem limites produz montanhas de lixo; invenções não biodegradáveis (pneu, pilhas, baterias de celulares, plásticos, isopor etc.) poluem a água, o solo e também o ar, quando são incinerados; os metais pesados que estão presentes nas baterias e pilhas, geram câncer quando incorporados na cadeia alimentar aquática; o uso inadequado do solo pela prática da monocultura e a criação de extensas pastagens agravam o desmatamento e desertificação; a emissão de poluentes pelas indústrias e veículos automotores é o principal responsável pelo aquecimento da temperatura global e pela chuva ácida que devasta plantações; o aumento populacional e o crescimento das cidades consumem em demasia a escassa água potável do planeta e agrava todos os problemas ambientais já citados. Acreditar na previsão de catástrofes ambientais, um fenômeno lento, causava um descrédito tanto no meio científico como entre leigos. Como compreender que fraldas descartáveis contaminam os lençóis subterrâneos de água potável por cerca de 500 anos? É preciso compreender que lixo é uma invenção humana, que os animais não produzem lixo. As conseqüências desastrosas provenientes de atitudes inadequadas para com o meio ambiente, que foram previstas pelos ecologistas há mais de meio século, chegaram: situação crítica da água potável, efeito estufa, lixo nuclear, chuva ácida, solos estéries, destruição da camada de ozônio, extinção de animais e plantas; desertificação etc. Estes gritantes problemas ambientais comprometem a manutenção da vida no planeta. A mudança de um comportamento inadequado geralmente se dá pelas conseqüências desastrosas. As conseqüências catastróficas re-significam e corrigem as ações danosas que estão sendo praticadas no meio ambiente. Este é um caminho mais sofrido e creio que existe uma opção. "A Criança é o Pai do Homem" afirmou Wordworth (1770-1850) em "O meu coração pula", a ação educativa preventiva pode mudar comportamentos inadequados e formar um comprometimento com a manutenção da vida. O que se deve e pode ser feito para abandonar uma postura antropocêntrica tão arraigada às atitudes cotidianas para uma prática de pequenos gestos que preservam o meio ambiente? Poderá a tecnologia construir objetos que não poluam o meio ambiente? Ensinar a todos que a simples pergunta "eu preciso disto agora?" diante do desejo consumista, diminui a montanha de lixo que devasta os recursos naturais, este é um exemplo de um pequeno gesto que diminui a agressão ao meio ambiente. Um projeto de educação ambiental bem sucedido deve ter como principal objetivo a formação da consciência ecológica no educando. A formação dessa consciência fundamenta-se em assimilar valores éticos e morais de caráter universal, na valorização da auto-estima, formação do autoconceito e compreensão científica dos fundamentos ecológicos, estimulando o educando para a ação ética e científica que visa conservar o meio ambiente. O aluno deverá construir o seu conhecimento e o educador atuar como um facilitador para a aquisição deste saber ambiental que, através das vivências cotidianas, permitirão a mudança de comportamentos nocivos para ações que preservam a natureza. Um ótimo ponto de partida é estimular aos alunos a pesquisarem como eles poluem o próprio corpo com o consumo de produtos domésticos. Pode-se, a partir dessa pesquisa, realizar diversas ampliações: o lixo doméstico e o que se pode e deve fazer para reduzi-lo, re-aproveitá-lo e reciclá-lo; o uso racional da água na escola; os problemas ambientais do bairro, município, estado e país; o lixo espacial como âmbito maior das sucessivas ampliações. Adotando-se o lema "A Começar em Mim" que é o olhar para dentro de si e ponto de partida para a formação da consciência ecológica, pensar globalmente e agir localmente, aluno por aluno, certamente o educador motivará atitudes eficazes de conservação ambiental. O universo cultural, a história da comunidade e o folclore em que o educando está inserido deverão ser considerados para que a relação professor-aluno seja afetivamente positiva. É fundamental considerar o educando como sujeito biopsicossocial e político. Fora desse contexto a ação pedagógica será estéril. O novo saber ambiental do educando re-significará com eficácia as atitudes refratárias do adulto. Um bom projeto de educação ambiental deverá propor atividades em família. Dessa forma a abrangência do projeto se estenderá para toda a comunidade: é o saber para todos. Tem-se que tomar duas cautelas para não roubar a esperança do educando. Primeiro, faz-se necessário deixar claro, numa situação de aprendizagem, que os problemas ambientais podem ser evitados, seus efeitos minimizados e que muitas ações ambientais estão ocorrendo num notável exemplo de boa cidadania, ou seja, quem prática o bem é a maioria. Segundo, não denegrir a imagem do Brasil, o Brasil não é o país que mais agride o meio ambiente. E este é um bom tema para uma pesquisa escolar: os projetos ambientais brasileiros que são um ótimo exemplo do exercício da cidadania. Urge educar para a vida! É preciso ensinar a todos que não existe "o Homem" e "o meio ambiente", numa separação que favorece a perpetuação de comportamentos inadequados, mas que estamos num sistema fechado, cíclico, que assim se manifesta intrinsecamente: o homem no meio ambiente. Toda ação humana destrutiva para com o meio ambiente volta-se contra o próprio Homem e, somente através da educação ambiental de base, realizada desde a infância é que poderemos manter acesa a esperança de que o valor VIDA não desaparecerá no nosso planeta. A razão humana, que nos legou a capacidade de gerar conhecimento e mudar a própria realidade, deve e pode ser usada para o bem universal. Nota do Editor: Nelson Pascarelli Filho é Consultor Científico - Educacional. Pós-graduado em Microbiologia; Biólogo, Filósofo, Psicanalista, Bacharel em Psicologia. Licenciado em Ciências Naturais, Matemática e Biologia. Palestrante do SIEEESP, AMEESP, ABITEP, LUMIAR,APROFEM, ECOPLAN, SINPROs, SINPEEEM. Professor Titular de Ciências Naturais da Secretaria Municipal de Educação de SP. Escritor da FTD. Quinze livros publicados nas áreas de Alfabetização, Educação Ambiental, Ciências, Trânsito e Sociedade.
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