Há verdades que a gente não diz por educação. Não é que a educação nos prive da sinceridade, ela apenas sugere que a gente omita a parte que pode ofender o outro. Chamar um idoso de velho, por exemplo, além de ofensivo é totalmente desnecessário. A gente sabe quantos anos tem, sente na pele quanto tempo passou, não é preciso que ninguém venha nos dar a notícia.

Há verdades que a gente não diz por medo. Medo de perder o emprego, de sofrer represálias, de pagar um preço maior que nosso saldo de vida permite. São verdades que ao serem ditas, abrem uma caixa nefasta de maldições misturadas às nossas melhores intenções. Todo mundo que já disse um par de verdades para um superior sabe exatamente quando custa um sincericídio.

Outras verdades a gente não diz por pura covardia. São verdades que ao serem ditas, poderiam nos libertar. Mas dizê-las requer uma energia que muitas vezes não temos em estoque. E assim, vamos empurrando a vida com a barriga, escondendo a verdade numa caixa de sapatos junto com rolhas de champagne e velhos retratos.

Mas há verdades que precisam ser lançadas ao universo. Mesmo que doam, que nos custe caro, que nos tire o sono. São as verdades sobre nós mesmos. São verdades miúdas sobre nossos pequenos defeitos que nunca admitimos, verdades voláteis que comprovam nossos enganos de momento, verdades ancestrais que nos libertam de ilusões tolas que só atrasam nossas decisões mais essenciais.

Se você tiver qualquer oportunidade de ser verdadeiro, não a deixe passar. Revele suas insatisfações, comunique seus desejos, divida suas vontades, não com estupidez, mas com firmeza. Seja firme, seja duro se necessário, mas seja sempre verdadeiro.

Por mais difícil que pareça, especialmente num mundo que privilegia tudo o que é falso em nome da aparência, viver da verdade é o melhor senão o único caminho. A verdade dói, mas liberta. E a liberdade é o maior luxo que um ser humano pode dar a si mesmo. De verdade.

Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.