Na semana passada, participei, na Academia Brasileira de Letras, da homenagem a uma figura lendária em nosso país: o arquiteto Oscar Niemeyer, que neste ano completa cem anos. É uma idade das chamadas provectas e inevitavelmente ela deixa suas marcas; Niemeyer, que nunca foi um homem grande, corpulento, agora parece ainda mais franzino e encolhido; anda em cadeira de rodas, cansa facilmente. Mas, Deus, que vitalidade, que disposição. Niemeyer sempre foi um homem apaixonado por causas. Em primeiro lugar, é um comunista histórico - aliás, aproveitou a ocasião para protestar contra a visita de Bush - e, aparentemente, continua fiel às suas idéias. Que, como demonstrou a História, não estão imunes à contestação. Não foram poucos os erros que esse comunismo cometeu, sobretudo no período de Stalin. Aliás, não falta quem censure o próprio Niemeyer por causa disto; seu planejamento urbanístico, tal como exemplificado em Brasília, é visto como "totalitário", glorificando o poder e minimizando a pessoa. Mas a ideologia, na verdade, é um detalhe, mesmo porque Niemeyer deixou o Partido Comunista em 1990 junto com Luís Carlos Prestes. O que importa, no caso dele, é o lado generoso do engajamento: a abertura para o humano, a inconformidade com a injustiça e a desigualdade, a disposição de fazer alguma coisa, "com modéstia" (palavras dele) para melhorar o nosso mundo. De outro lado, temos a arte. É impossível compreender a arquitetura contemporânea sem Niemeyer, escreveu Eric Hobsbawm, e de fato a sua contribuição na área é essencial. E é uma contribuição essencialmente brasileira; Niemeyer faz o que um crítico denominou de "a estética da fluidez". O elemento básico dessa estética é aquilo que glorificou a mulata brasileira: a curva. É uma arquitetura lúdica, capaz de neutralizar qualquer tentação totalitária. Agora: juntem o engajamento, juntem a paixão pela arte, e vocês terão os dois motivos que ajudaram Oscar Niemeyer a chegar aos cem anos. A conclusão é óbvia: é preciso acreditar. Acreditar nas nossas próprias possibilidades, acreditar na possibilidade de transformação do mundo. Este é o elixir da longa vida que, durante tanto tempo, os alquimistas procuraram. Não é preciso ser um Niemeyer para descobri-lo. O segredo da vitalidade é acreditar na vida.
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