A beleza e bem como a desventura do drama humano, no sentido ortegiano atribuído ao termo, só podem ser compreendidos na vivência de um indivíduo, porém, nunca em uma narrativa grupal, massificada. As multidões são, por excelência, a forma mais decantada da excrescência humanamente criada onde a bestialização se faz de modo coletivo e voluntário.

Todavia, quando paramos para ouvir, para refletir sobre as milhares de tragédias individuais que se vêem imersas e ocultas pela imagem totalitária das massas concebidas de modo ignaro, percebemos com clareza a grandiosidade do existir humano.

O ser humano é sempre ele e sua circunstância e seria nesta composição que construímos nosso caminho por este mar de lágrimas que é o mundo. Agora, quanto volvemos nossas vistas para as imagens da sociedade moderna, o que vemos? Vemos o ser humano desumanamente tendo a sua individualidade dissolvida na biônica circunstância das massas artificialmente manipuladas através da espetacularização da vida, como bem nos apontava em suas laudas os escritores Guy Debord e Roger-Gérard Schwartzenberg.

O espetáculo passou a apresentar-se como sendo o centro de nossas vidas, o novo "credo" oficial de uma sociedade falida espiritualmente, criando assim uma nova espécie de pseudo-religião onde a espetacularização do mórbido e do banal é elevada à categoria de liturgia e de rito fundamental da tosca vida moderna onde tudo passa a ser resumido a um jogo de consumo de imagens e de símbolos que reflitam um estado de espírito superficial, onde a revolta transfigura-se em manifestação cívica e o decorar de alguns cacoetes eleva-se à categoria de pensamento crítico.

Quanto a este último, em especial, a idiotia reinante dita progressista adora entoar como se fosse uma espécie de mantra sacrossanto.

Bem, como lutar contra essa força avassaladora, sinceramente, eu não sei, visto que, tudo que se volta contra esta pachorra acaba sendo absorvida por ela. Entretanto, arrisco-me em um palpite quanto a uma forma possível de se pelejar de modo eficaz contra a sua presença em nossas almas, pois, é justamente no âmago de nosso ser que temos o grande campo de batalha desta justa travada contra nós através de meios escusos.

Para tanto, sugerimos que você procure fundar as suas percepções em sólidos princípios que só são encontrados na filosofia perene e nas tradições religiosas (não em religiões biônicas inventadas a toque de caixa nos dias hodiernos para escravizas as almas imersas na confusão que impera). Somente estas podem nos ofertar um claro caminho a ser seguido por nossos passos sem cairmos nas armadilhas diabólicas do relativismo absoluto que apenas nos levam a confusão sem sentido da vida espetacularizada.

O que está em jogo, não é o fato de não crermos em algo, mas sim, o fato de crermos em qualquer coisa, por tolamente acreditarmos que em nada cremos. Esse, em si, é a grande desventura da humanidade nos dias atuais. O grande tormento da modernidade afogada em seu niilismo.