Há uma falsa idéia sobre as academias de letras. Alguns pensam que as academias são meros repositórios de vaidades que se comprazem apenas em realizar convescotes que não chegam a lugar nenhum em termos de conseqüência e sintonia com as carências culturais do povo. São, via de regra, criticadas pelos que a não conhecem, tal como na fábula de Esopo, A Raposa e as uvas. As academias têm sim, pessoas vaidosas, mas não são a maioria. Os escritores e poetas são pessoas que precisam do olho do outro, do reconhecimento do que escrevem em prosa e verso, são sempre seres em mutação constante. As academias são entidades do bem, nada ali é feito que não objetive o crescimento cultural, mesmo que esse crescimento não se dissemine por todas as camadas e pessoas, pois são, com a exceção da Academia Brasileira de Letras, carentes de recursos financeiros e ainda não estão modernizadas do ponto de vista de gestão, pois é difícil a liderança horizontal onde todos os pares têm o mesmo direito e não é alta a presença nos eventos. Elas remontam ao Século IV antes de Cristo, mas só foram consolidadas na era moderna, com a Academia Francesa criada em 1635, pelo Cardeal Richelieu, à época do Rei Luiz XIII. Em Portugal foram criadas academias no século XVII: a dos Generosos, em 1647 e a dos Singulares, em 1663, ambas logo fechadas. Depois, vieram outras, mas a Academia Real das Ciências de Lisboa só foi criada em 1779 e perdura até hoje. Aqui no Brasil-Colônia, criou-se na Bahia, em 1724, a Academia Brasílica dos Esquecidos, que incluía intelectuais nacionais excluídos pela pátria-mãe. No Rio, em 1736, surge a Academia dos Felizes, e a dos Seletos, em 1752. Alvarenga Peixoto e Basílio da Gama fundaram, em 1769, a Arcádia Ultramarina. Mas, só foi em 1897, nas pessoas de intelectuais como Machado de Assis, José Veríssimo e Rui Barbosa, que surge a Academia Brasileira de Letras, como uma reprodução da Academia Francesa. Acadêmicos não são arautos do saber, são seres com sede de conhecimento, não importando a natureza e a motivação pessoal, mas o saber que cada um possa produzir, como agente transformador, cria vales fecundos de inquietações e de contraditórios literários. A placidez não combina com o crescimento cultural. O grande desafio das academias, segundo alguns acadêmicos e críticos, parece ser chegado o tempo de modificar o processo que predomina na escolha de candidatos, dotá-las de estatutos e regimentos que o modifique, injetar recursos pela criatividade, leis e incentivos de cultura e o período de eleição de novos membros. Como a maioria das academias tem 40 membros, seria, quem sabe, melhor escolher 40 substitutos por mérito, efetivados por antiguidade, após a morte dos efetivos, sem o constrangimento atual da procura de votos logo após a passamento de um de seus componentes. As academias, por sua natureza, têm, via de regra, o bom senso e o equilíbrio de não compactuar com a falsa cultura, midiática, decantada por interesse, subserviência ou ignorância. Elas permanecem, quase sempre, altivas na sua independência, simples no que fazem e perseverantes na ação doutrinadora e incompreendida de disseminar a cultura.
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