Esta foi a melhor expressão que encontrei para designar o périplo do presidente Hugo Chávez, tentando abafar a passagem do presidente George Bush em seu tour pela América Latina recentemente. Tão logo confirmou-se a agenda do presidente norte-americano, o Chapolim de Miraflores programou às pressas viagens a países vizinhos com seu circo mambembe (e escolta de 500 guarda-costas cubanos), tentando atrair a atenção da mídia sobre si, querendo "roubar a cena". O que se viu na Argentina foi um espetáculo deplorável, patético, vergonhoso, sobretudo para o digno povo venezuelano. Ele sem dúvida arrebanhou multidões à sua volta porque escolheu países "camaradas" que sofrem influência direta, sua e do Foro de São Paulo. Enquanto Bush visitava Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, Chávez fazia seu show midiático na Argentina, Bolívia, Nicarágua, Jamaica e Haiti, tentando medir forças com Bush, instigando, proferindo impropérios e vulgaridades que só tiveram eco entre os seus iguais. O presidente norte-americano agiu como se espera de um chefe de Estado, tratando dos assuntos que motivaram sua visita com compostura e sem se imiscuir nas baixarias bolivarianas, para imensa frustração de Chávez. Quando uma pessoa sofre algum tipo de complexo, sobretudo de inferioridade, faz de tudo para atrair a atenção sobre si, ao mesmo tempo em que aponta nos outros defeitos que são seus. Aliás, esta também é a máxima leninista. Chávez sente inveja da nação americana por seu enorme poder e riqueza, daí porque joga pedras no "imperialismo ianque" mas não rompe os contratos que a PDVSA mantém com eles porque sabe que isto representaria um rombo muito significativo nas finanças da Venezuela. Nessa maratona empreendida por Chávez para empanar o brilho da visita de Bush à América Latina, há duas questões subjacentes: a primeira, é a de posar como vítima do "imperialismo" que o persegue, planeja seu magnicídio e conspira com seus "lacaios" para destruir a democracia na Venezuela. Com isto o neo-ditador venezuelano tenta encobrir seus próprios crimes, como feroz perseguição à dissidência, presos-políticos (civis e militares), fraude eleitoral, destruição das instituições democráticas através da Lei Habilitante que lhe dá poderes plenos e absolutos, doutrinação marxista nas escolas e universidades. Além disso, oferece apoio à guerrilha colombiana das FARC e faz alianças com governos tiranos e comunistas, como o de Cuba, Irã, Vietnã e Coréia do Norte. Recentemente, além da monumental compra (com os petrodólares da PDVSA) de armamento, munições e equipamentos bélicos, Chávez vem fornecendo urânio ao Irã e acaba de criar uma linha aérea que liga este país a Caracas, saindo de Damasco. Seria para facilitar o intercâmbio de material ou de terroristas, perguntam-se atônitos os venezuelanos? A outra questão é a sua sede de poder e a certeza da substituição na liderança da América Latina com a morte do ditador Castro. Em fevereiro de 2005 Chávez e Lula firmaram um acordo no qual constava a compra pela Venezuela de 30 mil barris diários do etanol brasileiro. Em junho de 2006 o ministro Rafael Ramírez, representando a PDVSA, anunciou de Havana, onde participou da VII reunião da Comissão Mista Intergovernamental Cuba-Venezuela, a construção de 15 destilarias de etanol aproveitando a compra de centrais açucareiras sucateadas de Cuba e que em fevereiro de 2007 já se estaria produzindo etanol na Venezuela. Nesta ocasião, Ramírez assinou contrato com Raúl Castro para contratar serviços cubanos para a construção dessas refinarias. Apesar desse otimismo, as destilarias nunca saíram do papel e em agosto de 2006 a PDVSA firmava contrato de "longo prazo" com a Petrobras para o fornecimento do etanol. Os carros venezuelanos tiveram seus motores adaptados e Chávez anunciava que "este projeto é parte dos empenhos conjuntos para preservar o meio ambiente, reduzir o consumo de combustíveis fósseis e fomentar fontes alternativas de energia". O acordo firmado entre o Brasil e os Estados Unidos foi um golpe duro demais para o Chapolim de Miraflores que, de uma hora para outra mudou toda a sua retórica eco-patética sobre o etanol. Em sua peregrinação, perseguindo Bush a uma distância regulamentar, a tônica do discurso era a crítica ao uso do etanol alegando que "estaríamos usando as terras férteis que temos disponíveis, a água disponível para produzir alimentos, porém não para as pessoas mas para os carros dos ricos". Quer dizer, ele pode continuar tendo como um de seus melhores clientes os Estados Unidos, apesar de chamar o presidente Bush de "Mister Danger", dizer que ele é o Diabo (como fez na assembléia da ONU) mas, como viu que os Estados Unidos firmaram um acordo que poderá trazer muitas divisas para o Brasil e, quiçá, dispensar seu petróleo, o belo ideal ecológico evaporou-se como éter em contato com o ar. Nota do Editor: Graça Salgueiro é jornalista independente, estudiosa do Foro de São Paulo e do regime castro-comunista e de seus avanços na América Latina, especialmente em Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil. É articulista do Mídia Sem Máscara, onde também colabora como tradutora e revisora, correspondente brasileira do site La Historia Paralela da Argentina, articulista do jornal "Inconfidência" de Belo Horizonte e proprietária do blog Notalatina.
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