Diário da Perua
Anabel já resolveu - enquanto o sucateamento aéreo brasileiro não for resolvido, voar, só de vassoura. O aeroporto de Congonhas, tão simpático, tornou-se uma espécie de terceira dimensão. Você sabe o horário no qual é obrigado a se apresentar para pegar seu vôo, só não sabe é quando a hora do vôo vai chegar. E para voltar para Congonhas ainda é pior. Depois de horas de atraso no aeroporto de origem, a gente ainda fica sobrevoando Sampa na espera para pousar, desejando ardentemente que o tormento da viagem acabe para chegar logo em casa, como se esse caos urbano fosse a terra prometida, aquela onde segundo a Bíblia jorrava leite e mel. Aliás, viagem agora, que não seja obrigatória tipo morte, doença, toc, toc, só de carro e para o Rio de Janeiro. O Rio também não tem nada de terra prometida, principalmente para franceses, que parecem ter se tornado alvo preferencial da violência carioca. Mas se você tiver a sorte de não furar um pneu na altura da Baixada Fluminense, como o músico que terminou assassinado, o quarto francês depois dos três mortos pelo integrante da ONG que criaram - seu fim de semana pode ser menos calorento do que às margens do Ipiranga. Poluída e/ou cheia, sempre há possibilidade de uma praia, uma brisa marítima, um short curto para sair à noite. Enfim, trata-se de uma cidade mais preparada para o calor, mesmo e principalmente nestes tempos de vingança do demônio, anjo abatido que transformou o mundo em sucursal do inferno com o auxílio luxuoso do efeito estufa. Mas, perguntarão meus amados, escassos e às vezes pentelhos leitores, já que a escriba se contenta com short e praia, porque não tentar a sorte aqui no Litoral Norte, mistura rara de Mata Atlântica e mar que só encontra paralelo em Búzios? Porque mesmo praia paulista no fim de semana torna-se roubada com a possibilidade de passar cinco, seis horas de engarrafamento em uma jornada que leva pouco mais de duas horas. Nesse tempo chega-se no Rio viajando normalmente, com inúmeros pedágios, mas sem engarrafamento e sem o azar de furar o pneu na Dutra. Anabel Serranegra acha que o presidente Lula é esperto, comprou um avião bacana com nosso dinheiro que lhe garante o direito de ir e vir sem precisar da vassoura Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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