Entrevistei vinte e um meninos esta tarde, um casting para o piloto de um quadro de televisão. Todos eles tinham entre dez e catorze anos, meninos mesmo. Impúberes, trocando de voz, inseguros. Cada um diferente do outro. Mas todos com um desejo em comum: a fama. Durante algumas entrevistas um dos entrevistadores colocava um dilema: a fama ou a fortuna? A resposta foi unânime: a fama. A fortuna não deve interessar tanto aos meninos desta idade ou então, eles já sabem que o dinheiro é uma conseqüência inevitável do status de celebridade no Brasil, onde se paga o equivalente ao salário do presidente da República para que um ex-big brother marque presença em uma festa durante uma ou duas horas. Alguns meninos pareciam adestrados pelos pais, repetindo frases de adultos. Outros, tinham mais personalidade, especialmente os que já haviam feito comerciais de TV desde muito pequenos. O curioso era o jeito com que eles falavam sobre a fama. A fama, para todos eles, é uma espécie de antídoto contra todos os males pelos quais os seres humanos passam. Um antídoto óbvio contra o indesejável anonimato por exemplo. Um garoto, por exemplo, disse que queria ser famoso para poder ser cumprimentado por todos na rua, para ser chamado pelo nome, receber aplausos, ovações, sorrisos. Seu sonho é o reconhecimento público. Outro garoto disse que ser famoso é gostoso. Todo mundo gosta de você. No caso dele a fama seria um passaporte para o afeto coletivo. Mas o que mais me chamou a atenção foi a definição de um menino muito, muito gorducho, provavelmente a caminho da obesidade mórbida. Tímido, acuado, cheio de espinha, visivelmente desconfortável em seu tamanho, falando baixinho, ele definiu com precisão seu desejo de trabalhar em televisão. Olhando de lado, um pouco acabrunhado ele disse com toda a sinceridade dos seus doze anos: - Ser famoso é bom porque você não é mais um zero à esquerda. É assim que ele se sente no mundo. É assim que tanta gente que dá tchau para as câmeras, que levanta cartazes de ’olha eu Galvão’, que tira fotos e pede autógrafos, que busca a fama a qualquer preço se sente: um zero à esquerda. Ninguém gosta de ser um nada, uma coisa sem valor, dispensável, um dígito sem valor nenhum. Um elemento neutro. Todo mundo quer ser pelo menos, alguma coisa. Um zero no lugar da dezena, da centena, do milhar, do milhão. A fama, seria o grande antídoto contra esta ’nulidade’. Vinte e um meninos disputando uma gota de sucesso, uma dose de remédio que aplaque a dor de ser apenas mais um. Se tiverem sorte um dia aprenderão que está exatamente aí a chave da felicidade, a descoberta da maravilha que é viver a chance de ser uma pessoa única. Quem se satisfaz com isso, encontra o enigma do verdadeiro sucesso. Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
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