Em 1995 o Brasil assistiu à concretização de um programa incubado desde o início dos anos 90. A concessão da Ponte Rio-Niterói para a iniciativa privada, no Estado do Rio de Janeiro, foi o início de uma nova era para as estradas brasileiras. Mesmo passados 12 anos, a polêmica em torno das concessões rodoviárias permanece viva e pertinente. Mas hoje o usuário sabe a diferença entre seguir por uma rodovia bem sinalizada, com pavimento adequado, serviços de emergência e outras regalias e viajar por uma estrada estatal. O problema é que o bolso do usuário também sente esta diferença. Entre os anos de 1995 e 2005 o valor dos pedágios em cinco estradas federais sob concessão superou a inflação em 45,4%. Já no sistema estadual Anhangüera-Bandeirantes a tarifa sofreu um aumento de 210% acima do índice de inflação no mesmo período. Estes números são de um levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento. No início do ano, os ganhos das concessionárias fizeram com que o Governo Federal freasse o antigo projeto de conceder mais sete lotes de estradas para a iniciativa privada. Só após novos estudos feitos e a conclusão de que uma redução de 20% nas tarifas de pedágio dos trechos que entrarão em licitação é possível é que a idéia deve tomar corpo nas próximas semanas. A opção pelas concessões é um caminho viável para sanar a questão de infra-estrutura da malha rodoviária brasileira. Segundo levantamento da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), seriam necessários R$ 20 bilhões para que as rodovias do país se tornassem trafegáveis. E isso sem contar o tempo que esta reestruturação levaria. Antes mesmo de se pensar nas questões tarifárias não se pode dar as costas para a realidade das rodovias administradas pelas concessionárias. Com boas condições de tráfego, elas não estão apenas mais bonitas. Estão mais seguras. Desde que os processos de concessão foram saindo do papel, o mercado de infra-estrutura viária teve que se mexer para dar aos novos clientes o que eles buscavam: qualidade, eficiência e durabilidade em termos de pavimento e sinalização. Esta nova postura do segmento transformou-se em um divisor de águas: só as empresas sérias, que buscavam soluções com tecnologia permaneceram competitivas. Com uma visão clara da relação custo x benefício, não interessa para estes investidores fazer e refazer as faixas que demarcam as vias, por exemplo. Mais do que tornarem as estradas espaços mais viáveis, eles estão incutindo no mercado um novo patamar de crivo técnico para a escolha de materiais. O resultado? Segundo balanço da Secretaria Estadual de Transportes de São Paulo, as estradas paulistas tiveram 25% menos mortes no Reveillon 2007, em relação ao mesmo período do ano passado. Infelizmente os números das rodovias federais nas mãos do Poder Público foram outros: nestas vias houve aumento de 47,5% de mortes no mesmo período, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal. É justo e necessário que o Brasil lance mão de recursos para projetos sociais. Mas igualmente é justo que o sinal esteja verde para as concessões rodoviárias responsáveis. Nota do Editor: Áurea Rangel é química, mestre em engenharia de materiais e diretora-executiva da Hot Line.
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