Vem cá. Antes daqueles aviões trombarem lá em cima do Mato Grosso (o Legacy e aquele Boeing da Gol, lembra?), já tinha essa zona toda com os vôos brasileiros? Ou começou tudo ali, naquele dia? Se você pensar bem, tem alguma coisa esquisita com isso tudo. Até os nomes das coisas são esquisitos. É um tal de transponder pra cá, Cindacta pra lá. Parece até nome de filme de ficção científica. Tudo bem. Eu não sou nenhum expert em aeronáutica nem nada disso. Para falar a verdade, eu voei exatamente duas vezes na minha vida toda. Uma foi num desses ultraleves, que apareceu numa fazenda de uns amigos que estavam dando uma festa. O pessoal diz pra mim que é necessária muito mais coragem para voar num ultraleve do que num desses 747, mas eu acho que não se trata tanto de coragem, mas muito mais de teor alcoólico, já que eu não me lembro muito bem de como é que eu fui fazer a besteira de montar naquele treco que mais parece um brinquedo do que um avião. A segunda vez, tudo bem. Já foi mais oficial. Eu voei num monomotor de Campinas a Mogi das Cruzes, numa viagem que não durou mais do que vinte minutos. Foi um vôo bastante tranqüilo, daria até para curtir a paisagem se eu tivesse coragem de chegar perto da janelinha do avião, a qual eu mantive fechada durante todo o percurso. Essa minha pouca experiência aérea, porém, não me impede de achar que tem alguma coisa muito esquisita nessa história. Você já tinha ouvido falar alguma vez em crise aérea? Em atrasos sistemáticos das aeronaves? Em greve de controladores de vôo? Em pistas interditadas por causa de nevoeiros nos maiores aeroportos do país? Antigamente não chovia? Então, porque diabos agora, com qualquer chuvinha à toa, todos os vôos se atrasam e vira esse pandemônio nos noticiários dos jornais, internet e TV? Veja bem, eu não estou aqui, de modo algum, falando que o sistema de tráfego aéreo brasileiro é o melhor do mundo. Eu estou dizendo justamente o contrário: o tráfego aéreo brasileiro, provavelmente, sempre foi uma grande porcaria, só que ninguém prestava atenção. Precisaram morrer 154 pessoas num desastre para que a gente se tocasse disso. Brasileiro é um bicho esquisito. É preciso que a água chegue no nosso nariz para a gente perceber que tem algum vazamento na casa.
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