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Crônicas
31/03/2007 - 14h01
Relicário
Helena Sut - Agência Carta Maior
 

Prece silenciosa. Entrego-me em comunhão às tentações do olhar. Consagro a pureza do espírito no profano gozo e realizo o paraíso sobre as labaredas do corpo. Saciada dos desejos carnais, anuncio o infinito orgasmo na percepção da vida abrigada no íntimo templo e dou luz à ternura de ser no outro a lúdica revelação da realidade.

Desejo. Nos lábios carmins o beijo lacrado, nos seios o leito coagulado de férteis ciclos, oceanos ametistas, recortados nos rubros horizontes. O corpo transborda a sensualidade reprimida num derradeiro gesto, num não-ser perdido na amplidão das prazerosas descobertas. Adormeço ante o olhar espantado do outro. Contração das palavras. Planos eqüidistantes, enredos desvirginados na apreensão dos sonhos. Segredo.

Quando fui aprisionada no jardim do olhar, pressenti que caminhava os passos cruciantes da paixão. A dor do gesto presente na incerta despedida, os sentidos suspensos entre as alturas do louvor e os abismos da ingratidão, o espírito em oração buscando a comutação das penas... Mísero coração! Em passos lentos, percebi o corpo tombar exaurido e se projetar no chão como uma lembrança angustiante... Quando tentei velar o morto, compreendi que a carne estava presa na minha alma em cruz e atravessei a noite insone para me desprender do desejo em agonia.

Devolva-me as memórias, suturas de peles, que não pude cicatrizar na ausência. Deixe-me fantasiar os descuidos, recompor os diálogos, os sonhos, os risos... Não fale! Antes sussurre os gemidos, as declarações, as palavras que se equilibraram nas carícias, os silêncios que se abandonaram nas entranhas... Leve as vivências amargas e, quando minhas pálpebras sonolentas se encontrarem, livre-me de mim para que eu possa acordar desatada de nós.

Nostalgia da perda. Já sinto os sintomas da temporada nos gestos retesados. Agarro-me em silêncio aos galhos expostos das emoções transpiradas no verão enquanto deslizo corpo na corrente de sentimentos no leito de margens outonais. Lirismo da vida. O desejo de ser as folhas amadurecidas nos ramos dourados se contrapõe ao receio de ter, no chão de lâminas farfalhantes, a denúncia das colheitas vividas e dos gostos prescritos. Folhas secas, frutos colhidos, troncos sem máscaras...

Amanheci com um riso de estrelas entreaberto nos lábios da noite.

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