Os estágios
Num mundo complexo e interconectado como o de hoje, as instituições não sobreviverão se tiverem visões que não extrapolem seus muros. É preciso olhar adiante e descobrir parceiros que possam ajudá-las a atingir resultados mais amplos e eficazes. Mas como? Dizem que este século é a era das alianças, que a articulação e a cooperação entre instituições do estado, organizações comunitárias e setores do mercado crescerão em importância estratégica, e as parcerias podem tomar várias formas e dinâmicas diferentes, trazendo uma infinidade de compensações positivas. Estrada longa? Bom, a crescente amplitude e a complexidade de nossos desafios sociais e econômicos estão refreando as capacidades institucionais e econômicas das organizações, com e sem fins lucrativos, de, isoladamente, lidar com eles. Logo, a cooperação emerge como espaço de novas possibilidades, já que nenhuma entidade isolada possui todos os elementos necessários para abordar com eficácia uma necessidade social identificada. Cooperação, esta é a chave, um pré-requisito para a eficácia. Mas existem inúmeras questões que envolvem este tema. As organizações e instituições precisam raciocinar taticamente para delinearem as suas formas de cooperação. Por que cooperar? Como a cooperação concreta contribui para a realização da missão? É distinguir, com clareza, que tipo de cooperação empreender e com quem. Como descobrir? Segundo pesquisas, existem vários estágios de parcerias. O primeiro seria o "estágio filantrópico", que se caracteriza por uma relação de doador e donatário. Geralmente se limita a submeter uma proposta de doação e depois agradecer pelo recebimento do donativo, é relativamente simples de administrar, não sendo considerada importante para a missão de nenhuma das entidades envolvidas. Nesse estágio, a cooperação é circunscrita em termos de pontos de interação. Mas esta não é a realidade do Brasil, já que as doações de pessoas físicas são de máxima importância para a maioria das instituições sem fins lucrativos, pois conseguir um patrocínio, ou melhor, um "parceiro" efetivo, ainda é um trabalho árduo e lento, como tudo no Terceiro Setor. O segundo estágio é chamado "transacional", onde as organizações realizam troca de recursos, por meio de atividades específicas. O abarcamento dos parceiros é mais ativo e o fluxo de valor passa a ter mais um caráter de mão dupla. As agendas podem ser separadas, mas há formas estratégicas de alinhar resultados. O segredo do sucesso desta parceria está na base da construção de uma interação mais rica. É a identificação de missões coincidentes e valores compatíveis, o que podemos chamar de "crenças". Mas ainda estamos longe de alcançar uma velocidade mais eficaz, ainda que o fluxo de benefícios corra de ambos os lados. Chegamos assim, ao terceiro estágio, o "integrativo". Nesse, a criação de valor individual desenvolve para a criação de valor conjunto. Processos e procedimentos são instituídos para gerir a crescente complexidade da parceria, que se torna institucionalizada. Porém, devido a nossa realidade e ao grau de burocracia, poucas organizações avançam até esse grau de integração. As que conseguem se beneficiam de forma substancial. Neste caso, a importância da cooperação para a missão de cada um muda de periférica para estratégica. Vocês não acham que está faltando um ingrediente fundamental aqui? Fatores e manutenção Os fatores que determinam o nível das parcerias e da cooperação, e que as tornam possíveis são, a compatibilidade das missões, estratégias e agregação valores. Mas existem outros pontos fundamentais, e que muitas vezes são deixados de lado nesta busca. Trata-se do envolvimento de gestores e a ligação emocional. Estes são ingredientes fundamentais para que laços de cooperação se fortaleçam. Não podemos esquecer que as parcerias institucionais são criadas e sustentadas por pessoas. A ligação com a missão é o fator "combustível". Os relacionamentos pessoais são o fator de ligação, de continuidade e harmonia. Para que as parcerias sejam sustentáveis, é preciso que aja um forte compromisso e uma boa química. Assim como nos relacionamentos, tem que haver uma paixão. A paixão por uma causa pode movimentar a energia de toda uma organização. Esses relacionamentos são pré-requisitos para uma base de confiança recíproca. Dinheiro não trabalha e não tem idéias. É necessário ter pessoas. Parcerias estratégicas são formadas quando os envolvidos desenvolvem relacionamentos sólidos, e descobrir os parceiros potenciais é um grande desafio, porque há uma grande carência de informação. Quem faz o quê e por quê? Estabelecer troca de informações é peça importante para o encontro. Daí, encontrando os parceiros, é preciso conhecer e avaliar suas mútuas compatibilidades e aptidões. Quanto mais profundas e amplas as ligações com a causa e as pessoas, mais sólidos serão os pilares da colaboração. A definição clara do objetivo da parceria é condição para obtenção de bons resultados. Cooperação gera mais cooperação. Uma parceria eficaz traz disposição e confiança necessárias para empreender outras cooperações. Esse aprendizado cria um efeito multiplicador de capital social. Outro fator muito importante é construir uma visão comum de futuro, ferramenta poderosa de mobilização e motivação das organizações. São necessários esforços e energias para alinhar missões, estratégias e valores, trazendo compensações em termos de garantia e durabilidade da aliança. Isso cria união e credibilidade, que não nascem por geração espontânea, e sim por atos cooperativos sucessivos que aumentam o conhecimento e a confiança. Uma questão importante sempre será levantada: Qual é o valor da cooperação para cada parceiro? A manutenção de uma aliança depende basicamente de sua capacidade de criar valor agregado para ambos os participantes. A magnitude do valor criado aumenta na medida em que o relacionamento passa da transferência de recursos genéricos para a troca de competências, e para a criação conjunta de valores. A parceria deve ser tratada como um relacionamento, não como um negócio. É preciso aperfeiçoar, dar feedback, exercitar a transparência. Comunicação! Tudo isso é muito novo. São novos paradigmas! É preciso aprender fazendo, já que não há receitas prontas, e estar aberto a novas descobertas e experiências. Não ter medo de inovar, de errar. É assim que se faz e se constrói uma nova história. O desenvolvimento de parcerias entre entidades, com ou sem fins lucrativos, envolve desafios imensos. Não há medidas uniformizadas e simples, mas sim muito trabalho e paciência. Uma palavra mágica: ENTUSIASMO! Deve-se deixar este vir à tona, aquele brilho nos olhos! Deixar o alto astral contaminar o ambiente! A fertilidade e os resultados crescem quando se faz o que se acredita, com bom humor, ambiente de amizade e possibilidades de inovação e experimentação. É importante sentir emoção e prazer na construção das parcerias. Afinal, as pessoas são mais motivadas por reconhecimento do que por dinheiro, mas que este ajuda, principalmente no Terceiro Setor, disso não temos dúvidas, não é mesmo!? Boa parceria para todos! Nota do Editor: Ana Leão é Coordenadora do Projeto AjudaBrasil - Designer - Consultora em Marketing - Conselheira em Direitos Humanos e Dependência Química.
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