O Orkut salvou a vida de muita gente com aqueles anúncios de aniversário. Basta um clique para que a falta de memória não mais se transforme em falta de educação. Nesse contexto surgiu o "scrap de aniversário", uma pseudo-literatura que sofre pela absoluta ausência de possibilidade criativa. "Parabéns!!!!", "Muitas felicidades!", "Que todos seus sonhos se realizem", "Quem tá fazendo aniversário hoje? Hein?" Não. Não tente ser original. Qualquer tentativa de fugir das frases acima leva ao ridículo. À criação desgovernada e despropositada. Para fugir do "scrap de aniversário", só recorrendo ao velho e bom telefone. Mas aí caímos na ligação constrangedora: - Parabéns... - Obrigado... PAUSA - E a vida? - Bem... Indo bem... E a sua? - Legal... - Ah... Então tá... Obrigado... - Pelo quê? O "scrap de aniversário" nos faz lembrar outra vertente da literatura comemorativa: o cartão de natal. Conhecido pela célebre "Feliz Natal e próspero ano-novo", o cartão de natal é uma das mais clichês formas de escrita humana, ganhando do "Feliz Páscoa!" e do "Neste carnaval, use camisinha". O Orkut salvou a vida de muita gente com aqueles anúncios de aniversário. Mas comprometeu para sempre a literatura brasileira. Nota do Editor: Leandro Barbieri é roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu Retrato da Lapa (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e Umas & Outras (a primeira novela da Internet), as quais também dirigiu em parceria com Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da webnovela Alô Alô Mulheres na allTV, onde é diretor do núcleo de dramaturgia.
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