Vaidade é necessidade básica de qualquer ser humano que se preza e deveria constar da Declaração dos Direitos do Homem, ou mais notadamente da mulher. Mas que as garotas estão exagerando, disso não resta dúvida. Nessa última semana fomos surpreendidos, ou melhor, assustados, por dois acontecimentos muito tristes gerados pela malvada - sim, porque vaidade em excesso, como aliás ocorre na maioria dos excessos, torna-se letal. Em Goiás, uma moça morreu porque queria ter cabelo liso e a escova que detonaria os cachos lhe foi fatal. No Rio uma outra está internada em coma induzido em uma UTI com 90% do corpo queimado por bronzeamento artificial. Bem sei que meus amados e escassos leitores esperam que Anabel deixe a tristeza lá fora e mande a saudade esperar. Mas alguém que é escriba do Diário da Perua não pode se furtar quando a tragédia não anunciada se abate sobre nós a tal ponto que vira manchete do Jornal Nacional. E não anunciada numas enquanto algumas tragédias ou comédias como CPIs que nascem para virar pizza e as que não podem nascer, patranhas políticas, aquecimento global, enfrentamentos policiais e outros são prenúncio quase certo de encrenca, cabelos lisos e pele bronzeada deveriam ser perfeita tradução de saúde e beleza. O problema que já pode ser farejado de longe é quando, para alcançá-los, o prometido paraíso estético vira porta do tormento. Duas moças da faixa de trinta anos caíram nele esperando ficar mais bonitas. Uma perdeu a vida e a outra, o direito ao sol. Até eu sei que uma pessoa de 34 anos em estado grave por causa de queimaduras, caso sobreviva com alguma dignidade, tem toda chance de nunca mais expor a pele resgatada ao sol. Os jornais exibem fotos de uma gaúcha clarinha que morava na Barra e, por não gostar de praia, em vez do bronze de Deus optava pelos raios das clínicas. Que me perdoem a dura observação, não sentirá tanta falta das areias cariocas, mas ninguém merece. As mulheres podem e devem procurar jeitos de se fazer mais bonitas. O problema é que os atuais padrões estão seguindo os mesmos do capitalismo selvagem na onda de fusões e aquisições, transformando as empresas em monoblocos que provavelmente não darão nenhuma chance aos consumidores. Qualquer dúvida esperem para ver o que vai acontecer com o preço das passagens agora que a Gol comprou a Varig. Mas voltando ao padrão estético, não basta ser loura, tem de ser magra e bronzeada, não basta ter cabelo bacana, pra ser bacana tem de ser obrigatoriamente liso e vai daí por diante, todo mundo conhece o modelito ideal. É lógico que as que vieram ao mundo com a alma mas não o corpinho da Gisele Bündchen só podem ficar desesperadas. E dá-lhe regime, lipoaspiração pra tirar de lá, silicone pra colocar ali, implante de cabelo (argh!) e o escambau. O botox da Marta no dia da posse no Ministério do Turismo tava de dar medo. Tive medo também no dia do lançamento da biografia da Maysa escrita pelo meu querido amigo Eduardo Logullo. Tinha um monte de colegas da alta roda com as mesmas bochechas, a mesma falta de expressão das injeções botulímicas, a ponto de eu ter confundido uma velha drag queen poderosa nos anos 80 com uma delas. Não tenho nada contra plásticas, pelamor, mas que essas coisas enchem mesmo quando dão certo. Tenho uma querida amiga que tem um peito com auxílio do silicone. Com ela aprendi que a trolha não é definitiva, tem de trocar de x em x anos, maior grana, anestesia geral, internação, tudo, tudo e tem mais - dificilmente pode se abrir mão do excedente. Isso quer dizer que mesmo que já entrada em anos a peituda se encha (sem trocadilho) e queira retirar o silicone dificilmente rola. A pele já foi cortada, esticada, sofreu ajuda da gravidade e, sem o recheio, passa a reinar um vazio na área, um trauma para quem passou anos exibindo o que na verdade não lhe pertencia. Ah, não, ainda teve aquela, esqueci quem, que soltou a máxima "o peito é meu, comprei ele". Anabel Serranegra achou hilário o PFL virar Democratas Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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