Diferente das nossas profissões, o atleta jogador de futebol já nasce com um dom "o de jogar bola". A atividade não requer ensino fundamental e sequer conhecimento na língua de seu país, um analfabeto, por exemplo, pode ser jogador de futebol. Parece-me que é daí que nasce a exploração de um atleta, em uma relação, visto como hipossuficiente perante a sociedade. Para se formar como jogador de futebol e começar a praticar a profissão o atleta entre os 14 ou 16 anos de idade, com um futuro incerto, é obrigado a passar por peneiras e testes físicos, para depois entrar para categorias de base dos seus clubes sem receber salários, podendo chegar ao profissionalismo aos 16, isto quando conseguem. Até aí tudo bem. Um médico, engenheiro, advogado também precisa ter estudos e formação acadêmica para assim exercer as suas profissões. Quem disse que o atleta não!? Não se podem tratar os iguais como desiguais; o fato de calçar chuteiras e vestir meias e uniformes esportivos não diferencia seu profissionalismo de um empregado de empresa que utiliza terno e gravata ou roupa social. Não é difícil perceber aonde quero chegar! Não é preciso ir longe para lembrar-se das Copas do Mundo e finais de campeonatos. Qual profissão dá tanta alegria ao povo brasileiro? Qual é o melhor remédio para esquecer os problemas e estresse do cotidiano? Como conseguir a alegria de acordar na segunda-feira, neste País, e esquecer que há tantos impostos e taxas, contas vencidas ou falta de dinheiro para sequer comprar remédios para um aposentado doente. Não sou médico, mas o diagnóstico é simples. Basta seu time de coração ou seleção ganhar uma partida ou um clássico ou ser campeão! E quem nos deu esta felicidade foram eles, atletas tratados como desiguais? Será que a origem de tamanha desigualdade de tratamento é porque eles são filmados e diariamente estão na mídia? Já os demais profissionais, como médicos, engenheiros e advogados, não? Perceba que não se precisa andar um quarteirão para se deparar com eles, representantes do futebol brasileiro, responsáveis por nossas alegrias e tristezas; basta olhar as propagandas nas ruas, televisões, outdoors ou em uma simples conversa na padaria. Perceba que está na hora de tratá-los como dignos trabalhadores; maldito é aquele que criou a comparação da escravidão à profissão "atleta jogador de futebol". Impensado e inconseqüente são os atos que sobram desta guerra, falar que isto acabou é enganar a si próprio, basta ver o número de processos ligado à sua profissão. Pior do que isto só a sua divulgação e alimentação jornalística sem fundamento. Lembrar de seus momentos de felicidade na frente da TV ou em um estádio de futebol não é ser solidário à profissão jogador de futebol; é preciso mais do que isto, sem dignidade e respeito, o atleta não vive e sem o atleta de futebol não existe clube nem torcida. Outro dia, um radialista de uma rádio famosa de São Paulo disse "que frescura é esta, do jogador de futebol não agüentar correr atrás da bola em uma altitude de 3.000 metros no Equador". Por que ele não vai lá? Será que este sujeito é feliz? Será que em uma rádio, televisão ou jornais você viverá bem comentando a vida inteira do jogador de futebol sem sequer saber a procedência médica ou o ocorrido? Onde vamos parar? Já parou para pensar alguém narrando a sua vida particular e profissional, ou a de um médico mostrando os seus defeitos, ao marcar um gol contra, por medicar alguém de forma errada; este é só um exemplo! O engraçado é que no mesmo mês, em um jogo da Seleção Brasileira em Goiás, berravam os jornalistas por não terem condições de trabalho em campo, só para ter uma idéia do que narrava um jornalista "estou diante de 300 repórteres só para falar com o Robinho." Estamos próximos da aprovação do Estatuto do Esporte, e o difícil é entender por que os atletas não se manifestam; será que é por ser a parte mais fraca e sofrerem represália dos seus empregadores? Isto precisa mudar! O intento não é acusar ninguém pela exploração da atividade jogador de futebol, e sim, demonstrar a realidade que muitos brasileiros aficionados pelo futebol desconhecem. Nota do Editor: Rodrigo Domingues Napier, redator e consultor da VerbaNet, é advogado especializado em Direito Trabalhista e Previdenciário.
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