O saudoso mestre Câmara Cascudo (1898-1986), em seu Dicionário do folclore brasileiro, página 575, 1972, destacou que: "As estórias mentirosas, pilhérias, anedotas, casos estupefacientes... são muito populares e constituem em gênero especial, onde a imaginação exagerada e livre se liberta dos limites da lógica...". Para o povo, as duas profissões que são mais acusadas de mentirosas, são inquestionavelmente a dos "pescadores e caçadores". Encontrei afixado nas paredes de diversos bares em que estive, o aviso humorístico: "Aqui se reúnem os pescadores, caçadores e outros mentirosos..." Particularmente quando criança ouvi muitas estórias de mentiras e conheci vários mentirosos. Aqui em Ubatuba, contava-se que um certo mentiroso, do tipo "clássico", passando apressado por um grupo de amigos, teria o mesmo sido chamado para contar a mentira do dia e se desculpado com a seguinte estória: "Amigos, desta vez eu não vou poder parar para prosar, porque o meu canário de estimação fugiu com gaiola e tudo!" Por lá se contava a estória do caçador que teria morto várias juritis com um só tiro. E tinha aquela do pescador que teria perdido o relógio em uma pescaria e em uma outra pescaria, cerca de dez anos depois, levando um peixe para casa, teria encontrado ao tratá-lo, o seu relógio ainda funcionando normalmente. Cresci fugindo da mentira, como o diabo foge da cruz, para seguir os conselhos e exemplos que a dona Laura, minha mãe, norteava o viver de seus seis filhos: "Quem mente rouba ou quem mente ficará de nariz crescido." Minha mãe também costumava contar que a mentira pode acabar matando o mentiroso: "Olhem, certa vez um mentiroso se afogando nas águas do rio da Maranduba, não foi socorrido porque ninguém acreditava que o mesmo estivesse falando a verdade!" O nariz comprido é atribuído ao personagem do boneco Pinóquio. O mentiroso é popularmente chamado em algumas regiões de loroteiro ou conversador. Quando a mentira é muito grande é logo denominada de "mentira cabeluda". Em relação à mentira, já se afirma: - A mentira tem pernas curtas! A conta do mentiroso sempre termina em sete. O mentiroso costuma começar sua estória com as seguintes palavras: Juro por Deus! Se for mentira Santa Luzia me cegue dos dois olhos! Fulano não me deixa mentir! Meu sogro é um caso de mentiroso clássico que conta suas estórias para os ouvintes acharem graça. Ele jura que pesca deitado de sua cama, com o anzol dentro do Rio Acaraú e a ponta da linha amarrada no dedão do pé direito. Só que, segundo ele, um dia foi arrastado da cama, passou pela porta da cozinha, derrubou duas cercas do seu quintal e só não morreu afogado porque desamarrou em tempo a linha do pé. O peixe, ele jura que era uma baleia... Ele evoca o testemunho de dona Maria, sua esposa: - Taí Maria que não me deixa mentir! Informa-nos o saudoso mestre e amigo folclorista Mário Souto Maior, em seu livro - A mentira tem pernas curtas. Espero que ela alcance logo o nosso Prefeito! Jairo dos Santos Vereador - PT
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