Faz alguns anos. Não lembro quantos. Estava em casa assistindo uma entrevista do Roberto Carlos no Fantástico. Ele falava de seu CD, de seus shows e de um distúrbio que a pouco diagnosticara, o TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Na seqüência, uma matéria explicava o problema. Minha família olhou para mim. Imaginem: um cara na televisão comendo macarrão com um garfo. Ele enrola o macarrão no talher. E um psicólogo, ao lado, diz que aquele gesto é um problema psíquico. Peraí... Isso é normal... Eu faço isso... Macarrão se come enrolado no garfo, não? Achei graça. Tinha um transtorno e não sabia. Vinte minutos conferindo se a porta da rua estava trancada. Meia hora para ver se o vídeo estava programado. A porta da geladeira, quebrada de tanto abrir e fechar para ver se estava fechando mesmo. O volume da TV sempre em número ímpar. Ou par, dependendo de uma lógica consistente, apesar de inexplicável. Segundo especialistas, o transtorno obsessivo compulsivo é o que podemos chamar de “o transtorno da dúvida”. Grosso modo: a pessoa acredita que se não realizar determinado gesto, algo negativo irá acontecer. Será? Na dúvida, melhor fazer. E é nesse dilema que está a angústia, a necessidade de cumprir o ritual determinado por uma aparente lógica. Necessidade semelhante a do fumante pelo cigarro, por exemplo. Como constatei em análise tempos depois, meu transtorno foi controlado. Trabalhei para que ele não atrapalhasse minha vida ou me expusesse em situações sociais. Ele está lá. Convive comigo. Mas nem de longe é um drama ou sofrimento. É evidente que dependendo do grau do TOC, um trabalho solo não é o suficiente. Em casos mais graves, é fundamental a ajuda de um especialista. Ajuda que procurei para ter certeza de que estava no caminho certo. A estas alturas o leitor deve estar pensando: “pronto, baixou o Dráuzio Varella”. Não. Não tenho intenção escrever um informativo. Só recomendo que, da próxima vez, prestem atenção no Roberto. Nota do Editor: Leandro Barbieri é roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu Retrato da Lapa (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e Umas & Outras (a primeira novela da Internet), as quais também dirigiu em parceria com Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da webnovela Alô Alô Mulheres na allTV, onde é diretor do núcleo de dramaturgia.
|