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Opinião
08/04/2007 - 10h00
Notícia de (mais) um seqüestro
Claudio Andrés Téllez - MSM
 

A captura de 15 marinheiros da Marinha Real Britânica na região do canal de Shatt al-Arab por forças navais iranianas, no dia 23 de março deste ano, pode elevar as tensões na região a um novo patamar. Os iranianos alegam que os marinheiros britânicos foram capturados quando estavam ilegalmente em suas águas territoriais, enquanto os britânicos afirmam que os seus marinheiros se encontravam em águas iraquianas, realizando patrulhamentos rotineiros de apoio ao governo do Iraque e sob autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Como quase toda crise diplomática, esta também iniciou-se com uma guerra de propaganda. Contudo, acreditemos ou não nas informações de posicionamento global que mostram que os marinheiros estavam em águas iraquianas quando foram capturados, devemos recordar que o Irã possui um histórico de seqüestros. Em 2004, oito marinheiros britânicos foram capturados pelos iranianos em circunstâncias semelhantes e na mesma região. Em novembro de 1979, a embaixada dos Estados Unidos em Teerã foi invadida por militantes islâmicos seguidores do aiatolá Khomeini que tomaram 52 funcionários como reféns durante 444 dias. Em dezembro de 1978, dois executivos da Electronic Data Systems (EDS), empresa do milionário texano Ross Perot, foram arbitrariamente presos em Teerã e acabaram sendo resgatados por uma equipe organizada pelo próprio Perot (o episódio inspirou um “best-seller” de Ken Follett, “O Vôo da Águia”).

A recente captura de 15 marinheiros britânicos ocorreu no momento em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas discutia ajustes finais de uma nova resolução contra o Irã, devido à insistência desse país em continuar com o seu programa de enriquecimento de urânio. À primeira vista, portanto, parece óbvio que a agressão iraniana é uma resposta às pressões que está sofrendo de parte da comunidade internacional.

O seqüestro de marinheiros britânicos não parece ser, contudo, uma atitude muito racional da parte do Irã para manifestar a sua insatisfação diante das pressões internacionais. É de se esperar que existam outros objetivos à vista com essa agressão. Um objetivo pode ser conseguir a troca dos 15 reféns britânicos por cinco guardas revolucionários iranianos que foram capturados no Iraque, acusados de fornecer armas aos terroristas que operam nesse país. Outro objetivo pode ser mobilizar a opinião pública na Inglaterra para desestabilizar a aliança militar com os Estados Unidos e acelerar a retirada das tropas britânicas do Iraque. O conteúdo da carta que teria sido escrita por Faye Turney, a marinheira que está entre os reféns, reforça essa possibilidade. Na carta, ela teria afirmado que está na hora das forças britânicas saírem do Iraque.

O Irã violou a “lei internacional” ao exibir os reféns britânicos pela televisão. A “lei internacional” também foi violada com a transmissão de imagens televisivas da mulher prisioneira, Faye Turney, obrigada a usar o véu islâmico. As declarações e confissões dos marinheiros presos, além da carta de Faye Turney, escrita em inglês “macarrônico”, levantam sérias suspeitas sobre a possibilidade dos reféns estarem sob intensa coação. Apelos à “lei internacional” dificilmente bastarão para resolver o problema, porém ajudam a trabalhar com a opinião pública para conferir legitimidade a possíveis ações de natureza mais, digamos, eficiente.

Uma possibilidade de resposta ao Irã seria a aplicação de sanções econômicas mais duras, por exemplo no que diz respeito aos investimentos ocidentais no setor energético, que é o ponto nevrálgico da economia iraniana. Porém as sanções atingirão mais a população civil do Irã (inclusive a grande parcela de oposição ao governo de Ahmadinejad) do que darão resultados concretos para a solução desta crise. Como no Oriente Médio islâmico há uma linha muito tênue separando o interesse nacional do fanatismo anti-Israel e anti-Ocidente, líderes como Ahmadinejad dão pouca importância ao sofrimento de sua própria população diante da possibilidade de infligir algum dano a seus inimigos. O Irã vem enfrentando uma grave crise interna e sanções que afetem severamente a sua população podem ter o efeito indesejado de contribuir para o aumento da coesão da sociedade iraniana em oposição ao Ocidente, fortalecendo dessa maneira o atual regime.

A realização de uma operação de resgate para a retirada dos 15 reféns do Irã seria possível, mas envolveria um risco muito alto tanto para a integridade dos reféns quanto para a equipe de resgate. Além de já não se fabricarem mais homens de fibra como Ross Perot, existe a lembrança do fracasso da operação “Eagle Claw”, uma tentativa de retirar os reféns norte-americanos do Irã em abril de 1980. O desfecho negativo dessa operação impactou severamente na tentativa de reeleição de Jimmy Carter, que nesse ano perdeu o pleito eleitoral para Ronald Reagan.

Outro caminho possível para a resolução da crise é a implementação de um plano do governo britânico de enviar ao Irã um representante da armada para garantir publicamente que a Marinha Real Britânica não entrou e não entrará em águas iranianas sem permissão. Essa manobra concederia ao Irã a chance de sair com a cabeça erguida e ao mesmo tempo a Inglaterra não abandonaria a posição de que seus marinheiros não estavam em águas iranianas quando foram capturados.

Independente do caminho a ser seguido nesta situação particular, o que devemos ter em mente é que, mais um vez, o Irã coloca em risco a segurança internacional e a estabilidade regional com uma atitude de provocação. Se os iranianos estão dispostos a seguir linhas de ação com as quais têm mais a perder do que a ganhar, o que não farão quando obtiverem armas nucleares? Ahmadinejad já manifestou explicitamente o desejo de varrer Israel da face da Terra. Diante do histórico de seqüestros do Irã e de suas atividades de fomento ao terrorismo na região do Oriente Médio (e fora dela), torna-se cada vez mais imperativo tornar o Irã inofensivo.

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