Era uma manhã fria. Ela olhava para o infinito do mar (ela gostava do mar) e em seus olhos uma lágrima. Pensava em atitudes, pensava nos compromissos, o dia-a-dia consumindo-a de forma voraz, impiedosamente chamando-a às responsabilidades do futuro que teimava em bater à sua frente. Naquele olhar se traduzia um mundo de pensamentos, a cabeça às vezes doía de tanto pensar. A carga, em principio, parecia pesada demais. Seria isso mesmo? Ela via o mar, respirava a sua vida e lançava em direção ao horizonte as suas dúvidas na esperança de um eco. Um retorno que teimava em não vir. Faltava o sorriso, o rosto exultando um bem que viesse de dentro, de si. Não vinha, faltava. Agora, muito mais que a dúvida, veio à saudade. A vontade de estar perto, de ser amiga, sentir o cheiro, o toque, o aperto do coração que espera, que quer... De novo. Olhava para o mar no aguardo do desenlace folhetinesco, mas não estamos no horário nobre, estamos na vida que nem sempre se mostra como queremos que seja: suave. A cabeça girava em torno de muitas ações, corações, emoções, insatisfações... Os "ões" que a existência coloca em cada lugar, em cada cantinho de cada existência. Soltou um grito "por que?" Esperou a resposta e... Ela veio. Suavemente, não do mar, mas de um toque em seus ombros. Gelou, não se virou pensando ser outra pessoa. Milhares de imagens num turbilhão de flash-backs. Será? Não se virou e preferiu ficar ali, imóvel, inerte em suas imagens mentais. A retina brilhava, mirava o mar, a lágrima parou e novamente o toque. Acordaria daquilo tudo, olharia? E num sopro em seus ouvidos sentiu o ar quente da fala: "Hei! Estou aqui". Pela primeira vez, depois de longo tempo, ela desviou o olhar do mar. Nota do Editor: Gil Horta é jornalista e radialista, trabalha na Rádio Solar de Juiz de Fora e ministra cursos de produção e locução.
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