Existe uma palavra que, aplicada ao sexo, tem um significado dúbio, para dizer o mínimo. Esta palavra é desempenho. Que, por si só, já admite várias acepções. No seu sentido mais geral, desempenho designa a maneira como alguém atua. Mas desempenho pode ser também o cumprimento de uma obrigação, pode ser a recuperação do que estava empenhado. Em termos de sexo, o que significa recuperar o que estava empenhado? O que, mesmo, estava empenhado? Há uma outra expressão para explicá-lo: obrigações conjugais. Ou seja, sexo. Desempenho, neste sentido, é o cumprimento do dever sexual. Há um terceiro sentido para a palavra: é o sentido atlético. Um jogador que faz várias cestas num jogo de basquete teve um bom desempenho. Um tenista que vence uma partida difícil, também. Agora: será que isso se aplica à vida sexual? Será que dá para descrever a cama como, por exemplo, um ringue de boxe? "Neste lado do leito, pesando 90 quilos, o esposo. No outro lado, pesando 60 quilos, a esposa..." Meio estranho, não é? Mas a verdade é que esta idéia foi incorporada à mentalidade de nossa época: falamos de atletas sexuais para designar homens que têm numerosos orgasmos ou que são muito bem aparelhados. São figuras que não raro se tornam lendárias. No Bom Fim havia um rapaz com um pênis tão grande que, quando batia com ele numa árvore, a árvore vibrava. E o resto da turma morria de inveja. Mas os atletas sexuais são exceção. Para muitas pessoas sexo é um problema. E não chegar ao desempenho considerado ideal, ou pelo menos normal, é uma fonte de preocupação, quando não de sofrimento. Isto explica o sucesso que, ao longo da História, fizeram os afrodisíacos. O termo vem de Afrodite, nome da deusa grega do amor. Eram os homens que se aproximavam desta deusa, e de fato, os afrodisíacos eram quase sempre consumidos pelo sexo masculino, sob a forma de alimentos, de bebidas, de substâncias várias. Em alguns casos, tratava-se daquilo que se conhece como simpatia. Por exemplo: ostras estimulam os homens, porque sua forma lembra a vagina (o lendário Casanova costumava ingerir 50 ostras no desjejum). O mesmo se pode dizer do pó de chifre de rinoceronte (coisa mais fálica não existe). É verdade que um estudo mostrou que a ingestão de ostras pode aumentar a testosterona, mas disso ninguém sabia na Antigüidade. Em outros casos, a substância tem efeito no organismo. A cantaridina, por exemplo, que é extraída de um inseto. Quando ingerida, causa uma sensação de queimadura na uretra que é, ao menos por alguns, sentida como excitação. A ioimbina, um alcalóide, pode aumentar o fluxo de sangue peniano (como o Viagra). E, finalmente, há substâncias que têm uma aura romântica: o chocolate. No começo da modernidade européia, as damas costumavam servir chocolate para os amantes (mas não para os maridos: seria desperdício. O chocolate era muito caro). Para os que reduzem sexo à ereção, ao orgasmo - ao desempenho, enfim -, essas coisas podem ser suficientes. Mas sexo é mais, muito mais do que isso. Sexo é uma das formas de troca amorosa entre duas pessoas. Troca, neste caso, implica intercâmbio, implica mútuo entendimento, implica compreensão. Implica olhares, implica abrir o coração, implica falar. Se isto não acontece, nem todas as ostras do oceano quebrarão o galho, e nem todos os chifres de rinoceronte o farão. Porque a cama não é um ringue. A cama, se vocês quiserem, é um barco no qual pessoas que se amam navegam pelo mar da vida.
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