O rabino Henri Sobel gosta de gravatas bonitas. É fácil perceber. O difícil é entender o processo psicológico que o levou a não resistir à tentação do diabo, e furtar três ou quatro delas nos Estados Unidos. Uma pessoa que ganha uns 30, 40 mil reais por mês, certamente pode pagar 200 ou 300 dólares por uma gravata de grife. Mas, no fundo, deve achar esse preço um roubo. É impressionante o fascínio que uma tira de pano, que além de tudo sufoca o cidadão, exerce sobre a maioria dos homens. Dizem que as mulheres também se impressionam bastante com esse sedutor ornamento masculino - um símbolo fálico, talvez. Oscar Wilde dizia que "dar um bom nó de gravata é o primeiro passo sério na vida de um homem". E esse nó não é uma coisa simples: há o duplo, o francês, o inglês. Deus me livre de todos eles. Outro dia, assistindo ao documentário "Entreatos", de João Moreira Salles, fiquei surpreso com uma cena do presidente Lula. Olhando-se no espelho, ao terminar de dar o nó na gravata, confessava: "A gente passa anos vestindo o macacão e não se acostuma; o terno e a gravata em apenas três dias você já está acostumado". Confesso não conseguir imaginar a satisfação que uma pessoa pode ter ao vestir uma gravata, principalmente em um país tropical e em tempos de aquecimento global. Na Croácia, onde surgiu, ou na França, onde virou moda no século 17, tudo bem, explica-se. Afinal, é uma peça do vestuário que protege do frio. No Brasil é uma tortura. Só pode ser mesmo um fetiche. E fetiches, como se sabe, são irresistíveis. Estimulam a perigosa área do desejo humano, e sua ação costuma ser irrefreável. Mesmo as pessoas de forte formação moral e religiosa muitas vezes soçobram. Henri Sobel tem formação moral e religiosa forte e, mais do que isso, um relevante serviço prestado à democracia, à liberdade e a convivência pacífica entre todas as raças. Mas não é por isso que deve ser inocentado e, sim, porque roubar uma gravata Armani, Gucci, ou Vitton, não deve ser considerado crime nem pecado. Quatro gravatas talvez seja exagerar um pouco, mas, mesmo assim, é, no máximo, um pecadilho - desses que a penitência não passa de uma ou duas "Ave-Marias". Entre nós, os brasucas, é até motivo de orgulho mostrar uma lembrancinha surrupiada de um hotel, do avião ou de uma loja, ao voltarmos de uma viagem qualquer. Quem nunca trouxe um suvenir desses na bagagem que atire a primeira pedra. Nota do Editor: José Luiz Teixeira é formado em 1974 pela Faculdade de Comunicação Social Casper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais Rádio e TV Gazeta, BBC de Londres, Rádio Tupi, O Globo e Folha de S.Paulo.
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