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SEÇÃO
Crônicas
16/04/2007 - 12h07
Cida
Gil Horta
 

Quantas Cidas existem no mundo? Recortado melhor: quantas Cidas existem no Brasil? Já parou para pensar em quantas Cidas já cruzaram o seu caminho? Algumas que conheço são cabeleireiras, manicuras, domésticas, floricultoras, enfim, Cidas do Brasil.

O apelido Cida pode ser uma variante de Aparecida ou Maria Aparecida e pode até cair no diminutivo “cidinha”, mas majoritariamente é conhecida por Cida e é incorporada a sua identidade. Quem é aquela senhora que mora lá na esquina? Ah! É a Dona Cida.

Mas dessas “Cidas” destaco uma. Descrevo-a com a cara do brasileiro comum, sem muitos recursos, necessitando sempre de alguma coisa, de alguma ajuda, seja financeira, de preferência financeira, ou de uma conversa que, minimamente, tente ser reconfortante.

Ela é negra, tem um metro e sessenta, mais ou menos e baseando minhas observações, deve estar entre os trinta e quarenta anos.

Quando fala é difícil de entender, sua dicção confunde um pouco o ouvinte. Ela balança a cabeça e não fita a pessoa nos olhos, medo? Não sei. Tem receio de conversar dando a nítida impressão, ou melhor, dá a nítida impressão de inferioridade, medo? Não sei.

Oi Cida tudo bem? “meeouualsgu” essa poderia ser uma das respostas da Cida, não existem palavras escritas que possam representar uma das respostas da Cida, ou existem? Esse “meeouualsgu” poderia ser um “tudo bem” truncado, não mau-humorado, por que a Cida tem sempre um sorriso na manga, melhor, no rosto.

Cida está na, o que os órgãos oficiais de pesquisa sobre a população classificam, linha da pobreza, entretanto creio que a pobreza material não influenciou de modo algum na riqueza cultural. Divido essa parte do texto em a pré-Cida e pós-Cida. AC e DC e me desculpem a ousadia metafórica.

Certa vez Cida resolveu, num arroubo de coragem, participar de um grupo de jovens senhoras aprendizes de ponto cruz. Em determinado momento Cida disse “meeouualsgu” que pode ser traduzido como “não consigo fazer esse tal de ponto cruz... Credo, que difícil”.

Porém, com a insistência da professora, Cida aprendeu, e bem, a fazer pontos com as linhas e de repente, junto com as obras das outras senhoras do grupo, os seus produtos estavam numa exposição rendendo um dinheirinho extra.

Cida passou a freqüentar assiduamente aquela oficina e aprendeu tanto que a professora passou a ensiná-la em casa. Grande Cida! O ponto cruz passou a ser um referencial em sua vida, mas nas encruzilhadas dos dias “Cidianos” um novo desafio surgiu para Cida. Estudar!

Desconfiei que a Cida estava guardando algo muito bem escondido no dia que ela me mostrou um livro e perguntou calmamente sem o “meeouualsgu”. Você acha esse livro bom?

Ah! Cida, escondendo o ouro.

Cida está matriculada num curso fundamental e o sorriso, orgulhoso, é evidente. Ela trocou o “meeouualsgu” pelas letras contidas nos livros. E por falar em letras, o “meeouualsgu” rearranjado significa: Eu Sou Alguém.


Nota do Editor: Gil Horta é jornalista/radialista e amigo da Cida.

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