Anabel tinha um tio, general de Exército muito, muito engraçado. Ele se auto-intitulava presidente da AMAMUCHA, Associação dos Maridos das Mulheres Chatas. Minha tia, que Deus a tenha, era uma santa, mas acho que a AMAMUCHA teria grande futuro nos dias de hoje, ia bombar de associados. O que mais tem no mundo é mulher chata. E as chatas normalmente casam, é impressionante a tendência masculina de se enrolar com malas, e olha que algumas delas equivalem a um conjunto Primícia completo. O tom de voz já é um divisor de águas para a categoria. As chatas, com raríssimas exceções, falam fino, alto, despejam aquele monte de abobrinhas numa vozinha que já dá vontade de correr para o outro lado do rio, ou qualquer outro lugar onde não se escute mais tal cantilena. E é impressionante como elas fazem sucesso. É como se tal vozinha fosse um passaporte para um mundo meigo, infantilizado, onde qualquer assunto que não seja o próprio umbigo ou viagens de circunavegação em torno dele não tem nenhuma importância. Em minha modesta opinião, isso deve deixar o sujeito absolutamente seguro de si, querendo não só ser dono da voz como também da emissora, pois seguramente essa daí não vai dar problema. Outra coisa na qual as chatas são boas é no quesito doença, elas parecem padecer de todos os males do mundo ao mesmo tempo. Têm dor de cabeça, enxaquecas, mal-estar, joelho feio, o diabo. Eu já trabalhei com uma que a primeira pergunta que eu disparava era "você melhorou?", não sabia de que, naturalmente, mas que o assunto rendia, isso rendia. Como os homens foram feitos para servir e proteger, ter sob suas asas uma criatura tão comprometida, tão enfraquecida, precisando de sais, cuidados e atenção o tempo todo também deve ser tarefa gloriosa. Algumas beiram a patologia, como as gastadoras crônicas, o que também muito envaidece alguns tipos masculinos, aqueles que gostam de gastar, ostentar, nada como alguém que os ajude nessa árdua tarefa. As ciumentas crônicas, que armam barraco, ligam para as amantes imaginárias ou não, reviram bolsos e gavetas atrás de pistas, também fazem a delícia humana - é ou não é uma delícia se sentir tão bom, tão desejado, tão maravilhoso, tão necessário? Garotas bacanas, que se interessam de verdade pelo mundo, falam num tom aceitável, têm controle do orçamento e alguma auto-estima que se cuidem - definitivamente esse não é o melhor perfil para fazer a fila andar. Anabel Serranegra também quer falar fino e gastar loucamente Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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