É impressionante como certas atitudes andam de mãos dadas, uma junto da outra e sempre na mesma seqüência. Bebida e encrenca, por exemplo, são, assim, uma seguida da outra, diferentemente de sexo e dinheiro, duas coisas boas que não necessariamente têm de vir nessa ordem. Mas enfim, Anabel está convencida de que a bebida abre as portas para encrencas. Mesmo quando a gente não se lembra do que fez. Tenho um amigo muito engraçado que resolveu o problema de amnésia alcoólica. “Não lembro, não fiz”, decretou ele desde que se pilhou adulto na noite, enfiando o pé na jaca. Mas nem sempre dá pra ser tão desavisado. Uma amiga querida acordou uma vez com um completo desconhecido na cama. O que os dois tinham feito durante a noite era óbvio, mesmo que ela não lembrasse – ele tratou de renovar o recuerdo. Depois que acabou esse segundo tempo, o cara perguntou se ela sabia o nome dele. “Claro”, mentiu deslavadamente. O cara foi fino, diria que até generoso – escreveu o nome e o telefone num papelzinho e se arrancou. Eu acho que ela teve até sorte. Quando é desconhecido fica mais fácil encarar. A dureza é constatar que aconteceu com alguém de nossas relações – sem trocadilho – e que é uma coisa tão sem nada a ver que a vergonha pega em cheio. Aí fica dureza o não lembro não fiz. Anabel Serranegra não agüenta mais esperar o milésimo gol do Romário Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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