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SEÇÃO
Crônicas
25/04/2007 - 17h01
Impossível regresso
Pedro J. Bondaczuk
 

A profilaxia de um dia normal da nossa vida, para expurgar da mente o mau-humor, o desânimo, o medo do fracasso e a tristeza, deve começar logo ao despertar. A primeira atitude sadia que devemos tomar é a de agradecer a Deus pelo privilégio de estarmos vivos. O segundo passo é o de cumprimentar quem cruzar em nosso caminho - cônjuge, filhos, empregada, vizinho ou um mero desconhecido - com amabilidade e um sorriso espontâneo nos lábios. O terceiro, é mentalizar que seremos bem-sucedidos em tudo o que tivermos de fazer, principalmente as coisas difíceis e os relacionamentos complicados.

Charles Baudelaire afirmou que "existem manhãs em que abrimos a janela e temos a impressão de que o dia nos está esperando". Eu diria que todo amanhecer é um convite da vida para que a usufruamos com plenitude. O bom-humor pode não resolver todos nossos problemas (às vezes não resolve nenhum), mas evita, pelo menos, que eles se agravem. Por isso, sempre vale a pena.

A amabilidade, por seu turno, cria uma predisposição, nas pessoas com que nos relacionamos, ou com as quais, eventualmente, venhamos a cruzar, positiva, favorável ou, na pior das hipóteses, neutra. Não podemos esperar boa-vontade de quem tratamos com arrogância, desprezo ou pouco-caso, nem dos que encaramos carrancudos, como se o mundo tivesse alguma coisa a ver com os nossos problemas e frustrações. Às vezes, até tem, mas não será dessa forma que conseguiremos ajuda para sairmos de pequenas ou de enormes enrascadas, não importa.

Finalmente, se encararmos a vida com hostilidade, ela, de fato, nos será hostil. Aliás, nem é necessário que a encaremos dessa maneira para toparmos com obstáculos mil e dificuldades de toda a sorte em nosso caminho. Ela, por si só, já é complicada o suficiente, é um desafio permanente, um teste constante à nossa paciência e às nossas habilidades e convicções, sem que precisemos agravar ainda mais o seu grau de dificuldade.

Não será, contudo, com medos irracionais e com pessimismos prévios e despropositados que conseguiremos uma travessia suave, já não digo de anos, de décadas, de longos períodos, mas de um mísero e passageiro dia. Se iniciarmos uma tarefa, qualquer que seja, achando, no íntimo, que não seremos capazes de levar a cabo essa empreitada com competência e com sucesso, é melhor nem tentarmos realizá-la. O mesmo vale para relacionamentos de qualquer natureza. Será mera perda de tempo e de esforço.

Em geral, não valorizamos nossos dias, achando, inconscientemente, que teremos muitos e muitos outros pela frente para compensar os que forem desperdiçados. Até poderemos ter, mas de nada nos valerão se não soubermos o que fazer com eles. Vemos, a todo o momento, o cavalo das oportunidades passar selado à nossa frente, sem que o montemos e galopemos rumo ao sucesso e à satisfação pessoal de sermos úteis e produtivos. É possível que passem muitos outros e que montemos, em determinado momento, em um deles. O mais provável, contudo, é que o que passou seja o único, ou então o último. Para que arriscar?

Cada dia perdido é irrecuperável. Pode ser mais um, de muitos, na nossa vida, mas também tem possibilidades concretas de ser o derradeiro da nossa existência. Nunca saberemos. A volta ao passado é até possível, mas somente na ficção (há um filme famoso que trata disso) ou na memória. Ele não é mais um tempo de ação, mas somente de reflexão e de recordação. Cyro dos Anjos faz essa constatação, que coloca na boca de um personagem, no livro "Dois romances", da seguinte maneira: "Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo que já morreu e que, ai de nós, se nos tornou interdito, desde que deixou de existir, como presente, e se arremessou para trás".

Da minha parte, sou mais incisivo que o excelente escritor mineiro, embora o que afirme não passe do "óbvio ululante" (como diria o saudoso Nelson Rodrigues): este é um regresso impossível! Daí a necessidade de encararmos cada dia, seja ele qual for, como se fosse único. Como se o prazo de nossas vidas fosse limitado a meras 24 horas, do nascimento à morte, passando pela infância, adolescência, maturidade, reprodução e justificação da nossa passagem pelo mundo, com uma obra sólida e inesquecível. Afinal, como afirmou, certa ocasião, William Faulkner, "o presente começou 10 mil anos atrás, mas o passado começou há um minuto". Também retifico sua afirmação e asseguro que ele teve início há ínfima fração infinitesimal de segundo. Aliás, nunca pára de começar!


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte . Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros "Por uma nova utopia" (ensaios políticos) e "Quadros de Natal" (contos).

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