O ponto alto do Fórum da Liberdade, recentemente ocorrido em Porto Alegre, foi a palestra de abertura proferida por José María Aznar, que presidiu o governo espanhol no período de 1996 a 2004. A título de esclarecimento, a Espanha é uma monarquia constitucional onde o rei Juan Carlos é o Chefe de Estado e o comando do governo é exercido por um presidente eleito pelo parlamento. Durante sua exposição ao público que lotava o salão de atos da PUC, formado majoritariamente por estudantes, Aznar relatou suas experiências à frente do gabinete de ministros e o extraordinário impacto positivo das medidas que adotou. Graças a elas, num espaço de tempo relativamente curto, a Espanha saltou do terceiro mundo para o primeiro, ampliou em fantásticos 50% a força de trabalho ativa e formal do país, aumentou em muito o PIB e a renda per capita e se tornou uma das economias com maior volume de investimentos no exterior. O Brasil, como sabemos, é um dos países onde os espanhóis promovem pesados investimentos produtivos. Tudo isso aconteceu graças a políticas de redução do tamanho do Estado, privatizações, diminuição da carga tributária, superávit primário, abertura comercial, respeito aos contratos e estabilidade política. Com tais providências e com seus ótimos resultados na economia e nas finanças públicas, a Espanha não apenas preencheu as condições necessárias para ingressar na comunidade do Euro como superou as exigências estabelecidas, tornando-se o país próspero e socialmente correto que, por várias vezes, tive oportunidade de constatar nos últimos anos ao percorrê-lo de automóvel em várias direções. Em mais de uma oportunidade, enquanto falava, Aznar expressou sua preocupação com o avanço do populismo na porção ibero-americana do nosso continente. E eu fiquei pensando sobre as razões desse lamentável fenômeno, bem como sobre o contraste que se verifica entre os estadistas que de hábito dirigem as nações evoluídas e os demagogos irresponsáveis que controlam a política em nossos países. A causa é, evidentemente, institucional. Sociedades urbanas de massa, chefia de Estado e de governo confiadas à mesma pessoa, eleita por voto majoritário, em pleitos como os nossos, são veredas abertas aos mentirosos, demagogos, populistas, corruptos e corruptores. Duvido de que o próprio Aznar, se tivesse tido que disputar eleições do nosso feitio, houvesse chegado ao poder em seu país. Instituições bem concebidas e regras corretas para o jogo político geram estadistas e são fator de desenvolvimento social e econômico. Já o modelo que adotamos por aqui serve muito bem aos Lulas, aos Chávez, aos Evos, aos Kirchners, aos Ortegas, aos Correas e a outros mais que virão por aí. Bom proveito. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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