Técnica, que tem atraído diversas pessoas com promessa de cura milagrosa, não possui comprovação científica e pode trazer danos à saúde
Circulam ilegalmente pelo país cópias de um DVD no qual um médico aposentado defende uma suposta técnica capaz de combater ou evitar diversos males, que vão desde simples acnes a casos de câncer e AIDS. Trata-se da auto-hemoterapia, procedimento sem nenhuma comprovação científica e que preocupa seriamente os profissionais de saúde. A técnica consiste em retirar sangue do paciente e injetá-lo no músculo do braço ou das nádegas. Segundo os defensores da auto-hemoterapia, o organismo veria o sangue reinjetado como um corpo estranho e, dessa forma, estimularia o sistema imunológico, criando uma suposta defesa contra as doenças. O que parece ser milagroso, no entanto, pode ter efeito perverso. O hematologista Alexandre Nonino, do Centro de Oncologia e Hematologia de Brasília (Cettro), explica que qualquer procedimento médico, antes de ser testado e posteriormente aplicado em pacientes, precisa de embasamento científico que sustente seu mecanismo de ação e de estudos pré-clínicos, isto é, em animais ou em culturas de células humanas, que mostrem resultados promissores. "A explicação dada pelos defensores da técnica não faz o menor sentido. O organismo só reconhece como corpo estranho proteínas de outros indivíduos, não as próprias. A ausência de embasamento teórico e de estudos prévios jamais faria com que um estudo clínico com a auto-hemoterapia fosse considerado ético", esclarece. De acordo com o hematologista Gustavo Bettarello, do Pasteur/Diagnósticos da América, a técnica traz, na verdade, diversos riscos à saúde. "A injeção pode gerar um processo inflamatório tanto na pele quanto no músculo, o que causa dor. Além disso, o quadro pode evoluir para uma infecção generalizada", alerta. Outro fator preocupante é o abandono, por parte do paciente, dos tratamentos convencionais, descartando, assim, as chances de cura. "Troca-se um tratamento conceituado e padronizado por uma técnica com resultados incertos", destaca o médico. Segundo o Dr. Alexandre Nonino, alegar que pelo menos o cliente se beneficiaria do efeito placebo é uma inverdade, pois o procedimento não é totalmente seguro. "Esses modismos terapêuticos são recorrentes. Eles são vendidos como panacéias por pessoas que se beneficiam financeiramente da boa fé dos pacientes", frisa Dr. Nonino. Mesmo não tendo registros de danos provocados pelo procedimento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou parecer no início do mês de abril alertando que, como a técnica não possui nenhuma comprovação científica, os médicos estão totalmente proibidos de utilizá-la.
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