O que você acha, quanto deve ser a taxa de juros: 12%, 10%, 30%, 3%, ou talvez -2%? O problema da inflação ou do crescimento "sustentado" não está no tamanho da taxa de juros. O problema é o quanto o governo precisa pagar para financiar seus gastos atuais sem cobrar mais impostos ou gerar uma inflação maior. Se ele baixar os juros a inflação aumentará e, num primeiro momento, a economia se aquecerá, já que os primeiros a receberem moeda, a um custo relativamente baixo, empreenderão uma série de novos projetos aparentemente lucrativos. Mas, em seguida, caso o governo se dê conta de que a inflação está muito alta e fizer um novo aumento de juros, muitos desses empreendimentos resultarão em prejuízo, provocando a desaceleração da economia ou até uma recessão. Essa novela acontece o tempo todo em praticamente todos os países ditos desenvolvidos. Mas, por outro lado, se o governo aceitar a inflação o prejuízo é ainda maior, pois obriga as pessoas a gastarem muito tempo na tentativa de proteger seu patrimônio da desvalorização, em vez de produzir produtos e serviços valiosos à sociedade, levando-as a muitos negócios e empreendimentos que normalmente não teriam valor. Também deixa as pessoas sem um meio eficaz de comercializar, pois como a moeda corrente se desvaloriza rapidamente é difícil saber o quanto as coisas valem num determinado momento. Além de desmotivar as pessoas a poupar, causando enormes prejuízos à produtividade e crescimento futuros. Em resumo, a taxa de juros permite ao governo gastar hoje e jogar parte da conta para o governante de amanhã. Ou seja, o problema real são os GASTOS do governo. Os juros são apenas uma conseqüência, assim como o são a inflação e os impostos. Aliás, a mesma ladainha dos juros também existe para os impostos. Muitos reclamam que o governo deveria diminuir os impostos. Sem dúvida, os impostos são muito altos. Mas o governo precisa se financiar de alguma forma, se não for com os impostos será com os juros ou com a inflação. Não há como fugir disso, apesar de muita gente acreditar em gratuidades. Os ALTOS impostos assim como os ALTOS juros são apenas uma conseqüência dos ALTOS GASTOS. O que deveria se fazer é pedir, ou melhor, impor legalmente a contenção dos gastos, sob pena de rigorosas punições, assim como procederam os constituintes norte-americanos com relativo sucesso há mais de 200 anos. Se o governo não for restringido por lei, não é difícil de perceber que ele irá literalmente comprar o apoio de grupos influentes da população às custas de toda a sociedade. E lançará mão da retórica usando todo o tipo de palavras nobres, tais como investimentos sociais, ajuda aos necessitados, proteção aos pobres produtores etc., para tentar disfarçar o fato de que isto acarreta um enorme sacrifício à sociedade. Em conseqüência, ocorre a situação interessante de que em muitos quesitos quanto pior for o governo, ou seja, quanto mais prejudiciais forem suas atitudes para a sociedade como um todo, mais votos ele ganha. Outra questão importante é que por si só a fixação dos juros, assim como a fixação de qualquer preço, incluindo o do salário, já causa problemas graves à sociedade, independente do valor fixado. Alguém certa vez disse que o controle de preço dos aluguéis é a maneira mais eficaz de destruir uma cidade, depois dos bombardeios, é claro. Cada situação de negócios é única e depende ao mesmo tempo de infinitos fatores. Os preços e os juros precisam se adaptar a cada caso, e não o contrário. E, embora qualquer comerciante ou financeira privada possa se equivocar sobre o preço ou os juros que deve cobrar (o que à rigor sempre acontece, pois nunca se sabe exatamente o ponto ótimo para estas variáveis, embora se consiga chegar muito perto usando métodos e ferramentas adequadas), a vantagem motivacional que eles levam em relação ao governo, devido a estarem pondo em risco o seu próprio patrimônio e sobrevivência, lhes dá uma enorme vantagem. Além de não terem poder legal, além do contrato voluntário, para impor qualquer valor aos seus clientes, o que limita sua capacidade de cometer abusos. O cidadão comum certamente não faz idéia o quanto sua renda é prejudicada pelos "benefícios" e limitações que são impostas pela legislação nos seus contratos. Se o fizessem hoje, Brasília seria aniquilada até amanhã. A saída portanto para o crescimento "sustentado" não é simplesmente baixar a taxa de juros do Banco Central. Isto de fato apenas transfere os problemas, se chega a tanto. Mas tampouco é suficiente o governo baixar os gastos, apesar de ser um bom começo, pois permitiria baixar os impostos, a inflação e os tais dos juros. Se queremos diminuir a pobreza e elevar o padrão de vida de forma significativa, devemos levar o governo a tomar adicionalmente as seguintes atitudes: desregulamentar o trabalho, o comércio e a produção e acabar com o monopólio monetário. Mas estas são questões a serem abordadas no futuro. Nota do Editor: Eduardo Andre Both é engenheiro e economista.
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