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Crônicas
27/04/2007 - 07h23
Tudo sobre as drogas
André Falavigna
 

Isso, vamos falar sobre coisas delicadas. Como de costume, vou desenvolver esta crônica empilhando muitos absurdos entremeados das mais sensatas observações. E tudo isso para agradar vocês.

Tirante o futebol, a droga é o assunto de apelo popular a respeito do qual mais se fala merda no país. Fala-se mais merda a respeito de droga do que de política. Quando ambas as questões se misturam, aí então temos um esplêndido coquetel de merda. E a coisa vem de todo lado.

A maneira mais fácil de jogar conversa fora a respeito do assunto e, ao mesmo tempo, evitar a fedentina, é ir fazendo apontamentos acerca das grandes verdades que se ouve por aí o tempo todo. Esculacha-se aqui certo ponto, acolá outra certeza, adiante mais outra. E pronto. Divertimo-nos para valer e ainda falamos umas verdades. É adorável. Eu, pelo menos, adoro. Vamos lá.

Em primeiro lugar: droga é, sob certo aspecto, gostoso de usar. Acho que foi o pessoal daquela mãozinha envolvida por uma placa de sinalização de trânsito que primeiro se deu ao trabalho de dizer. Se fosse por uma simples questão contingencial, haveria gente normal viciada em alface. Eu sei de gente que teve a vida destruída pela alface, mas são todos casos perdidos. De heroína há quem se livre. Da burrice, não. Portanto, pare com essa história de "mas eu não entendo que graça tem". Nem queira entender, que não é o caso. O caso é perceber que alguma graça deve ter.

Outra coisa: alterou o estado de consciência, é droga. O inverso não é necessário. Às vezes, drogas não alteram o estado de consciência. Alguns remédios, por exemplo. Agora, se podem alterar, dá para usar com fins engraçadinhos. Se o uso divergiu do fim medicinal, é "tóchico", na acepção mais popular da palavra. Álcool é droga e, ora vejam só, maconha também. Aliás, esse assunto é ótimo. Maconha. Pausa para a maconha. Vale a pena falar um pouquinho sobre a maconha.

Ora, maconha pode perfeitamente ser gostoso, relaxante e, em algum sentido muito restrito e fortemente condicionado, inspirar alguma criatividade, algum insight. Mas não deixa ninguém mais esperto, ou traz à tona qualquer tipo de talento, ou estimula a profundidade do raciocínio. Eu sei, amigo maconheiro, que você discorda de mim. Mas isso é porque você não vê o que vejo, porque estou de fora e, você, de dentro; ao passo que vejo o que você vê porque todas as coisas que nos fazem ver tudo continuam válidas para mim quando você fuma maconha. O caso é que as pessoas que não fumaram vêem mais e melhor que você. Elas vêem, inclusive, que a maconha, consumida regularmente e em grandes quantidades, produz imbecis completos, incapazes de apreender ou aprender o que quer que seja, arrogantes e meio fedidos. O ácido tem o mesmo efeito, só que em escala fantasticamente aumentada. Inclusive o prazer. E não, a maconha não tem nada de "natural", no sentido que se costuma emprestar à alface. O troço é quimicamente tratado, geneticamente modificado e tem qualidades tão telúricas quanto minha dourada e olorosa urina após uma noite de gordura de porco, álcool, drogas, prostitutas de luxo e jogatina. E, quem sabe, maconha.

E não, a maconha não é a porta de entrada para as drogas pesadas. Ela sozinha pode ser suficientemente pesada, assim como o álcool. Álcool que, aliás, costuma ser a porta de entrada para as drogas pesadas. Dêem-me um cocainômano e eu lhes darei um alcoólatra.

Ah, a cocaína. Aquela coisa cheia de aventura. O ritual. O estímulo. O perigo. Os poderes ampliados. Os peidos assombrosos. A vergonha. A desonestidade. As mulheres fáceis, todavia meio suadas demais antes da hora, coisa que não perdôo. O submundo. O ritual, de novo. Os poderes durando cada vez menos e os peidos, cada vez mais. A taquicardia. A impotência. As brochadas imperiosas. A redenção pelo ritual revisitado. A glória e, finalmente, a sarjeta, as famílias destruídas, os vídeos cassetes roubados. Ora, fazem-se alguns amigos sinceros, pelo menos entre os que sobrevivem. A cocaína trata-se do Diabo, só que em pó. E produz as pessoas com menos noção de higiene em toda a face da terra. O camarada, quando se põe a cheirar sistematicamente, mais dia menos dia desaprende a limpar a bunda direito. E nem se importa. Multiplique isso por cem ou duzentos, misture com amoníaco e, voilà, eis o crack. Costuma acabar em merda.

Não sei bem o que dizer sobre heroína e outros opiáceos. Nunca conheci ninguém que os tivesse usado, e nem jamais os usei. Vou ter que passar. Quanto ao lança perfume, é sempre aquela coisa de interregno entre as outras. Muito riso, muita alegria, uma máquina de Vortex dentro da cabeça e, na manhã seguinte, aquela ressaca que é a mãe de todas as ressacas. Às vezes, alguém morre do coração. Nunca vi, mas não duvido nem um pouquinho.

Ecstasy? É aquela droga que produz gente que sai de madrugada para se drogar e beber... Água? Quando tudo parece pedir um uísque o sujeito vai lá e pede uma Lindóia, porque em outro caso vai-se o barato? Não é respeitável. Não é sequer coisa de drogado. É a quintessência do são-paulinismo vanguardista. Trata-se daquilo que chamamos de veadagem, mas que não tem nada a ver com sexualidade: tem a ver com colhões ou, melhor, com a falta deles (ao menos em bom estado). Além de tudo, o usuário pesado acaba indo morar num RPG de roteiro ruim, em que tudo que o cerca é tão altamente específico e lhe parece tão escandalosamente superior e sublime que você, para começar uma conversa com ele, precisa de um uísque na mão esquerda. E de um cassetete na direita. Se for canhoto, pegue o uísque com a direita, porque é preciso bater bem forte.

Muito bem, chegamos ao álcool. Ocorre que já são mais de seis da noite e preciso de um trago. E não, não quero repetir o trocadilho que diz que "Tá vendo, falei mal de vocês, mas sou igualzinho", como na famosa tirinha do Angeli em que um pai, para esquecer que o filho é drogado, toma um porre. É que o álcool é assunto para uma crônica só dele. É uma das poucas drogas que se associam a algum prazer físico desvinculado das alterações de consciência (não é necessário se embebedar para notar que esta ou aquela cerveja é gostosa). E uma das poucas que pode fazer exclusivamente bem. Mas isso é só se você não souber como utilizá-la. Se é que vocês me entendem.


Nota do Editor: André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.

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