O país assistiu aterrorizado o drama de Mara Silvia de Souza e seus três filhos, seqüestrados por quase 60 horas em Campinas - SP. Sem dúvida, ficamos aliviados e emocionados ao recebermos a notícia de que todos foram libertados, especialmente que estão bem. Temos a impressão, e assim esperamos, que daqui em diante reinará a paz para toda a família e às pessoas de seu convívio. No entanto, muitas vezes, a própria banalização da violência nos faz esquecer de coisas extremamente importantes: quais são as conseqüências psicológicas de eventos tão traumáticos? Como será que esses trágicos destinos marcarão e conduzirão a vida de cada um deles dali para frente? Além de todo o sofrimento durante o período do seqüestro, a experiência traumática é capaz de desencadear uma doença denominada Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT). É natural que pessoas que estiveram frente a frente com o perigo (seqüestros, acidentes, perdas etc.) necessitem de um tempo de adaptação para que suas experiências dolorosas possam ser diluídas e cicatrizadas. Porém, para aquelas que sofrem do transtorno em si, a memória freqüentemente traz à tona todas as lembranças do ocorrido. Recordam não somente as imagens do ocorrido como também revivem e remoem de forma intensa, persistente e sofrível (em forma de flashback) todo o momento do medo e da dor. Atualmente, o transtorno é diagnosticado com relativa freqüência nos consultórios de psiquiatria e de psicologia do mundo todo e está tomando força expressiva, da mesma forma que ocorreu com a depressão e o pânico. São os perversos reflexos da "força bruta" dos tempos modernos que não distinguem credo, raça, sexo e idade. A pessoa também pode sentir um sofrimento psicológico intenso quando exposta aos fatos que lembram o trauma original, com fortes respostas físicas como taquicardia, sudorese intensa, ondas de frio ou de calor, sensação de desmaio, falta de ar etc. A revivescência das suas dolorosas recordações podem estar "à espreita" nos pequenos detalhes. Desta forma, muitos evitam repetidamente tudo o que está relacionado ao evento traumático (pessoas, assuntos, lugares), pois só o fato de pensar no evento traz grande angústia ao paciente. Em muitos casos observamos o aparecimento de embotamento emocional, com afastamento de pessoas importantes de seu convívio. Pessoas com TEPT também estão mais predispostas a explosões de raiva, insônia, dificuldade de concentração, estado de alerta permanente e/ou sustos e sobressaltos. É fundamental que o indivíduo procure ajuda logo após o evento traumático, pois as chances de melhoras e superação das recordações aflitivas são maiores. O tratamento precoce também diminui a probabilidade do indivíduo desenvolver outros transtornos como depressão, pânico, abuso de drogas etc., que podem trazer seqüelas para o resto de suas vidas, com prejuízos evidentes nos setores sociais, profissionais e/ou acadêmicos. Nota do Editor: Drª Ana Beatriz B. Silva é médica psiquiatra, escritora, professora Honoris Causa da UniFMU (SP), diretora das clínicas Medicina do Comportamento (RJ e SP). Autora de "Mentes com Medo: da compreensão à superação". Drª Mirian Pirolo é assessora literária e farmacêutica-bioquímica - Medicina do Comportamento (RJ).
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