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SEÇÃO
Crônicas
29/04/2007 - 10h03
Homens incontáveis
Ruth Barros
 

Lamento informar que, ao contrário do que parece, homens incontáveis não quer dizer tão numerosos como as areias da praia, com o perdão do Velho Testamento. Não, Anabel é louca, mas nem tanto, sabe que esse artigo é escasso. É pior, homens incontáveis são aqueles, que dentro desses poucos, não dá para contar com eles para nada. E olha que não me refiro a morte, doença, dinheiro e nem mesmo a sexo - é nada mesmo.

Uma amiga querida conseguiu descolar dois deles com uma só caixa d´água, ou seja, ao mesmo tempo. Rimos tanto que resolvi deixar no relato dela a história, que aliás foi quem bolou o termo incontáveis. Mas passemos aos fatos: "Conheci outro dia um carinha muito mais novo, que pra minha surpresa, pareceu genuinamente interessado em minha bem conservada carcaça. Queria chegar aos finalmente, eu fiquei inibida, dei meu telefone e ele não ligou no dia seguinte, conforme o prometido, mas no dia subseqüente, o que achei até lucro dentro da atual conjuntura. É verdade que ele tem outros interesses em minha pessoa além desse já claramente demonstrado - uma grande vantagem nos homens mais novos é que o interesse é óbvio e palpável, daquele tipo que não deixa dúvida". Ela fez um arzinho maroto, desses que também não deixam dúvida e eu nem interrompi.

"Ele quer fazer um tráfico de influência, quer ser apresentado a um sujeito importante que conheço. Começou a ligar e marcar coisas, da primeira vez fiquei empolgada, eu não conseguia esquecer o interesse palpável, mas fica aquela coisa, ele vive enrolado, daí liga pra falar que vai atrasar, daí atrasa mais, daí eu dou área por falta de paciência, e ele some. Torna a ligar em outro dia e se desculpa, marca outra coisa, começa aquela lengalenga. Diga-se de passagem que depois da primeira parei de levar a sério, me deu preguiça e fico só recebendo uma série de telefonemas mais ou menos do mesmo teor que já contei". E aí, tomou alguma providência?, perguntei, curiosa pela conversa.

"Que nada, hoje mesmo ele já ligou - nesse ponto é gracinha, liga cedo, antes de qualquer coisa, como se fosse a coisa mais importante do mundo te encontrar naquele dia. O problema é que eu acho que ele vai mudando de idéia, se distraindo com as maravilhas que a vida põe a seu alcance, do dele, bem entendido. Hoje não tem aula, o carinha tá na faculdade, pra você ter idéia do tamanho da encrenca, e quer fazer alguma coisa. Não chega a ser prejudicial, não mudo uma virgula de meus planos e na falta de nem bolo novos em função dele, não paga a pena. É da raça dos incontáveis, como não consegue completar nenhum dos planos a que ele mesmo se propõe não tem serventia nem para a apresentação que precisa e que faço na boa. Fico então simpática, termino com o eterno nos falamos e vou cuidar da vida. Como não tomo nenhuma iniciativa fico esperando para ver se ele cansa".

A bichinha tem sangue-frio, devo admitir. E o outro incontável? "Ah, esse tecnicamente está no lado oposto, é mais velho, bem-sucedido, bonitão, ótima conversa e linda voz. Nesse caso o problema é que com isso tudo você se empolga, põe as manguinhas de fora e ele, sempre tão solícito, desaparece, não cumpre nenhum dos combinados e nem telefona, mesmo se a questão a ser tratada seja séria, tipo envolvendo profissional, aluguel de casa, esse tipo de coisa. Quando nos encontramos e nos falamos ele conta alguma história do tipo estive muito ocupado. Acho meio óbvio que o cara não tá afim - esse não teve interesse nem explicito nem implícito. Então, se não dá para dar uma voltinha e nem tratar de assuntos relevantes, isso também o coloca com louvor no quesito incontável".

A conclusão dela é tipo rainha da lucidez. "Não tô nem aí, se não dá pra contar não dá, não sou eu quem vai ficar enfiando esperança e idiotice na minha cabeça. E olha que são dois fofos, solteiros - o segundo é separado, evidentemente - que dariam para ornar em várias rubricas, até em amigo para passear. Fazer o que?" Se você teve paciência de ler até agora vou aproveitar para fazer o comercial, minha santa Ruth Barros estará no Autor na Praça, na Benedito Calixto, Pinheiros, a partir das 14 h, autografando "Os Florais Perversos de Madame de Sade", que escreveu com o Marcos Gomes e a saudosa Heloisa Campos, publicado pela Rocco. Apareçam, ela está com medo de micar por causa do fim de semana prolongado.

Anabel Serranegra espera que não chova no piquenique da Ruth Barros


Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.

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