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SEÇÃO
Crônicas
03/05/2007 - 20h14
A folga e o buraco (ou: Filosofando no feriado)
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

Feriados sempre me fazem pensar. Temos tempo para isso, pois não? Então, quando eu fico ali, de barriga para cima, deitado no sofá, procurando alguma coisa em que pensar, eu acabo pensando mesmo é na folga propriamente dita. E acabo chegando a umas conclusões esquisitas.

Por exemplo. Folgar não é uma coisa que se faz. Pelo menos é o que diz o dicionário Houaiss, no verbete “folga: espaço de tempo durante o qual se interrompe uma atividade ou trabalho”. Quer dizer, folgar é deixar de fazer alguma coisa. Folgar não é uma coisa em si.

Folgar é como um buraco. Um buraco é a falta de alguma coisa. Se tem um buraco na parede, não é porque o buraco está lá, mas é porque a parede não está. Ou um buraco no chão. Não é que tem um buraco ali no chão. Está é faltando terra.

E é a mesma coisa com a folga. A folga não existe assim, ao pé da letra. O que acontece é que, naquele determinado momento, você não está trabalhando, o que deixa a gente sempre meio encucado. Eu, pelo menos, fico. Enquanto estou ali, sem fazer nada, sempre fico pensando no que eu deveria estar fazendo e não estou, o que acaba atrapalhando bastante a minha folga. E aí eu fico procurando o que fazer e, em vez de folgar, eu acabo lendo o dia inteiro. Eu leio jornais, revistas, livros, bulas de remédio, qualquer coisa que me caia na mão. E aí eu fico pensando se fazer isso é realmente uma folga, já que eu ganho a vida com as palavras. É a mesma coisa que um jogador de futebol, nos seus dias de folga, juntar uns amigos para uma pelada. Ou então um cozinheiro passar os seus feriados cozinhando para as visitas.

Acontece que, mesmo se a gente fizer todas essas coisas, chega uma hora, durante nossas folgas, que a gente não encontra absolutamente nada para fazer. Nessas horas é que a coisa complica de vez, porque a gente começa a pensar em como as coisas não fazem muito sentido. A gente começa a pensar na vida, na morte, na velhice e em todas as coisas que a gente deveria ter feito e não fez.

E aí a gente descobre porque é que foi que o ser humano inventou o trabalho. É porque é muito mais fácil ficar trabalhando do que ficar pensando nessas coisas. Trabalhar preenche o tempo, como a terra preenche o buraco. O problema é que a folga é um buraco sem fundo.

E a gente acaba trabalhando para caramba.

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