Passou por mim com a rapidez de um raio e a delicadeza de um anjo. Paralisado, fiquei à espera do próximo passo daquela mulher. Um belo corpo emoldurado pela calça jeans e uma blusa indiana verde. Passou tão perto que senti os seios me roçando as costas. Em frente ao banco da praça ela começa a mexer na bolsa. Parece procurar algo importante. Pega o celular e enquanto atravessa a rua, começa a falar. A noite chega devagarinho e as luzes dos automóveis perambulam, enquanto descemos a ladeira movimentada. A moça desliga o telefone, e se detém de frente a uma vitrine. Coisa de um segundo depois ela, de propósito, coloca um dos pés em cima do pequeno muro com três tijolos deitados que formam o jardim no meio do calçadão e se vira para mim. Desvio o olhar para baixo... e quando volto a olhar na direção da mulher ela não tem mais os olhos em mim. Estou de novo parado na calçada. Aquele olhar me pegou de surpresa e desvendou as agruras de minh’alma perturbada pela beleza do mundo. Tudo quero, tudo desejo e quase nada é para mim. Acho pouco o que me sobra, chega a ser quase insuportável viver em alguns momentos. A TV, a loja, o carro, o botão, o out-door, o shopping center, a internet, o escândalo, os dólares, a modelo, o atleta, o vídeo-game, o reality show, a roupa, a viagem, o carro, o avião, o barco, a ilha, a casa, a escola, o clube, a cirurgia, a coragem, o prazer, a dúvida, a dor, a fé, a cor, a calma, a raiva, a solidão, o vício, o ódio, o sexo, a amizade, a desesperança, a comida, o vômito, o corão, a vitória, o calor a bíblia, a preguiça, o frio, a preocupação, a loucura, a velhice, a paz, a cura, a mensagem, alguns tipos de música, de livros, de gente. E quem sabe, um espaço onde eu tenha tempo de me lembrar que cada um tem o tempo necessário para ter e ser o que se pode ou consegue na medida em que merece. Nota do Editor: Marcos Alves é jornalista e diretor de vídeos.
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