Semana passada, o COPOM se reuniu mais uma vez para decidir o novo valor da taxa referencial de juros (SELIC) para os próximos 45 dias. Como de hábito, a mídia tupiniquim dedicou páginas e mais páginas dos grandes jornais, além de incontáveis (e preciosos) minutos na TV e no rádio discutindo o assunto. Primeiro, tentando adivinhar qual seria a decisão e, depois de decidida a estrovenga, criticando a postura “conservadora” dos ogros neoliberais do BC. (Este é um país realmente sui generis. Num lugar onde os gastos públicos são astronômicos; o governo só não é mais ineficiente por falta de espaço; a carga tributária é infame; o ambiente de negócios absolutamente esclerosado; onde inexiste segurança jurídica; o clientelismo é desenfreado; o rent-seeking é praxe; a infra-estrutura obsoleta; a corrupção endêmica; a burocracia asfixiante; enfim, num lugar onde não faltam problemas econômicos freando o crescimento, é inacreditável a quantidade de tempo, papel e neurônios desperdiçados, discutindo +/- 0,25 ou 0,5% na taxa de juros. Terrinha abençoada esta...). Confesso que passei muito tempo sem compreender a lógica lulo-petista de manter o Banco Central (efetivamente) independente, muito embora a tendência autoritária e centralizadora do presidente e de seu partido sempre tivesse sido bastante clara - como todo e qualquer bom bolchevique, diga-se de passagem. Agora, finalmente a ficha caiu. A exemplo de tudo mais no Governo Lula, existe uma claríssima estratégia de marketing por trás desta aparente contradição. Observe, amigo leitor, como os “isentos a favor” derretem-se em efusivos elogios diante de toda e qualquer decisão econômica do governo, por mais estapafúrdia que seja, ao mesmo tempo em que marretam, sem dó nem piedade, a política monetária do BC, imputando a esta última a culpa pelo fracasso econômico da nação, como se a taxa (referencial) de juros fosse a única variável econômica em jogo. Resumidamente, o engenhoso ardil funciona assim: o que acontece de positivo na economia é mérito da política econômica do governo. Já o que não anda bem é responsabilidade do COPOM (independente) e sua famigerada política neoliberal “cuja intenção, única e exclusiva, é beneficiar banqueiros e rentistas, à custa do suor do povo”. Simples e eficiente. Nem Goebbels pensaria algo melhor. Ah! De quebra, ainda se consegue manter a inflação sob controle. Mas isso não é importante, pois não? Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.
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