Procuro, de memória, definir um padrão de mãe ideal. O que seria, afinal de contas, mãe ideal? Descubro, de pronto, que escrevi um absurdo. Ideal, por si, pressupõe imaginação e utopia. Não é real, é imaginário. Não é essa a mãe que tento definir. O que talvez tenha querido dizer seja mãe completa. Mais uma vez, vejo que a palavra completa pressupõe alguém a quem não falta nada do que pode ou deve ter. Qual mãe teria essa completude? Nenhuma, é certo. Penso então em mãe fiel, mas acho que fica meio piegas, pois significa que é digna de fé. Por outro lado é também quem cumpre o que promete. Mas, as mães não prometem, pois a curta ou longa vida vive-se no dia a dia, na lida. Elas não prometem, vão fazendo. Desisto então, de mãe fiel e imagino que mãe porreta seja mais moderno, justo para a moçada, mas descubro que há filhos nascidos nos tempos em que chamar uma mãe de porreta seria, para eles e para ela, no mínimo, uma grosseria. E aí fico meio embatucado. Afinal, que adjetivo seria adequado para qualificar a palavra mãe? Lembro de mãe legal, mas me dá a idéia de mãe que segue leis, costumes, serve não. E já estou mais do meio da escrita e não encontro uma palavra, que resuma o que todos nós, filhos da mãe, pensamos dela. Volto a olhar a frase anterior e vejo filhos da mãe. É no bom sentido, claro, mas se entende ‘filhos da mãe’ como uma ofensa. Desculpe. E o que estou querendo é saudar, deixar claro o meu bem querer às mães que fui encontrando ao longo da vida, à minha mãe, bonita e lúcida. Às avós, às tias. À mãe de minhas filhas. Às filhas que se tornaram mães, às mulheres-mães que compartilham o trabalho comigo há anos. Às irmãs, sobrinhas, amigas, amadas, a quem tento homenagear, mas ainda não consegui a palavra adequada, definitiva, resolutiva e justa. Fecho os olhos, penso em D. Margarida, na perceptibilidade de seus 88 anos, cheia de sabedoria em seu jeito simples de conduzir a vida com todas as incertezas e ouço a resposta que daria sem pestanejar: “Mãe é mãe”. Fica assim.
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